sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Série Rendida - Novais J





A Caixa de Pandora


Era o momento de voltar aos antigos hábitos: foder com mulheres que não queiram mais do que o meu pau entre suas pernas. Mulheres que não me faça perder noites de sono pensando no “se”.
Se fosse diferente.
Se eu conseguisse.
Se... se... se...
Se ela soubesse de tudo riria da minha cara. Eu não suportaria ver mais ninguém rindo de mim ou me fazendo de idiota.
Chega dessa merda!
Caminhei para a entrada do Clube Sex, vinha aqui pelo menos três vezes na semana, mas nos últimos meses não apareci. O motivo tem nome.
Fernanda.
O ambiente estava lotado como sempre, mesas ocupavam o local, a pista de dança era enorme e o bar sempre servia as melhores bebidas. Sento em uma das mesas e peço um Whisky Chivas Regal 25 anos para começar. Assim que o garçom traz a bebida e o líquido quente desce por minha garganta a tensão alivia um pouco.
- Quando te vi pensei que fosse uma miragem. – uma voz dengosa sussurra em meu ouvido.
Viro a cabeça a tempo de ver a mulher morena sair detrás de mim e ficar na minha frente, meus olhos passam com interesse por seu corpo, belas pernas, belos seios e uma bela boca carnuda.
- Patrícia. – falo a reconhecendo.
- Fico feliz que se lembre de mim Alexandre. – deu um sorriso aberto sentando-se ao meu lado na mesa.
Pensei em lembrá-la de que não a convidei para sentar, mas me detive.
- E então? Por que sumiu? – falou deslizando os dedos pelo meu tórax.
- Muito trabalho. – digo tomando um gole do meu whisky.
Sua mão pousa na minha perna e sobe até o meu pau e ela o aperta.
- Que tal matarmos a saudade? – pergunta manhosa.
- Não estou afim. – respondo a encarando.
Ela ri.
- Acho melhor você avisar isso para o seu companheiro aqui. – Patrícia aperta mais meu pau e eu respiro fundo. – Senti sua falta.
Sei do que você sente falta... do meu dinheiro.
Eu te pagava muito bem para manter essa boca fechada e em volta do meu pau.
- E então? – insiste erguendo uma sobrancelha.
Não sei por que, mas penso na Fernanda. Ela parece um fantasma assombrando a minha mente. Ignoro o pensamento e forço um sorriso encarando a mulher ao meu lado.
- Acho que meu pau vai gostar de ter sua boca em volta dele essa noite.

******

Levo-a para um quarto de hotel. Ela senta na cama, abre as pernas, afasta a calcinha e começa a se tocar. Tomo a decisão de não comê-la, apenas um boquete deve servir para me fazer relaxar.
Levo minhas mãos aos botões da calça e os abro, desço calça e cueca até o joelho, meu pau sai ereto para fora e olho para ela. Patrícia lambe os lábios e vem engatinhando até mim, se apóia em minhas pernas e então sobe, pega o meu pau com ambas as mãos e faz os movimentos de vai-e-vem.
 Fecho os olhos e tento me concentrar esperando sua boca me chupar.
No fim você só mostrou ser o que eu sempre achei que você fosse. Um babaca.
Agora eu vou agradecer se você sair da minha casa. Na verdade eu nunca deveria ter te deixado entrar na primeira vez.
Dou um salto para trás e Patrícia me olha assustada.
- O que houve? Não estava gostando?
Meu estomago embrulha. A corrente de ar é impedida de entrar em meus pulmões. Levanto calça e cueca me recompondo.
Preciso sair daqui.
Patrícia se ergue e encosta em mim envolvendo meu pescoço com os braços.
- Qual o problema Alexandre?
Retiro suas mãos do meu pescoço e dou um passo para trás, pego minha carteira no bolso da calça e apanho algumas notas de cem.
- Seu pagamento.
Ela pega e franze o cenho.
- Mas nem fizemos nada. – sorri sem graça.
- É pelo tempo que fiz você perder comigo te trazendo até aqui. – explico.
Ela abre a boca sem emitir nenhum som e eu saio pela porta sem olhar para trás.
Para um homem a pior coisa não é broxar. O ruim mesmo é quando seu pau sobe e mesmo assim você não sente vontade de ir além.
Minha única vontade é de estar com ela...


Sentia orgulho de mim mesma. Se você estivesse aqui também sentiria. Eu não estava me descabelando, dramatizando e contribuindo para o aumento da água salgada no planeta chorando pelos cantos. Não vou mentir e dizer que não estou sofrendo, estou até passando pelos Estágios do Pé na Bunda, sem descer do salto é claro.
Todo pessoa normal que leva um pé na bunda passa por esses estágios, não necessariamente na mesma ordem, mas passam. São estágios bem loucos e avessos ao extremo:
Estágio 1: Raiva. Você sente raiva de tudo. Do mundo por ser tão injusto, de você mesma por ter sido tão burra e principalmente do cara que te deu um chute. Então você deseja que o pau dele caia ou que no mínimo não suba pelos próximos cinquenta anos.
Estágio 2: Valorização. Você se exalta ao extremo. E fala frases do tipo: “Ele nunca vai encontrar alguém como eu?” ou então “Ele não me merece”.
Estágio 3: Depreciação. Agora é você que não é boa o suficiente. Aí você começa a se perguntar se o problema não é com você, se fez algo de errado.
Estágio 4: Sessão do descarrego. Aquele momento que você coloca tudo pra fora de duas maneiras: chorando ou falando mal do cara para as amigas.
Estava evitando ao máximo passar por este estágio. Ninguém sabe sobre mim e o Alexandre e não vai ser depois de um pé na bunda que irei contar, então só me resta chorar sozinha e isso eu me negava a todo o momento.
O pior são as lembranças. Por mais que você se esforce para não pensar elas sempre vem e qualquer coisa te faz lembrar a pessoa, um cheiro, uma frase, um gesto ou até mesmo uma música. Seria tão mais fácil se quando o cara decidisse sair da sua vida todas as lembranças e sentimentos fossem juntos com ele.
Cadê os caras do MIB - Homens de Preto com aquela parada que apaga a memória quando a gente precisa?

******

No domingo resolvi cuidar de mim, voltaria para a empresa no dia seguinte e pelo menos exteriormente queria mostrar que estava bem. Nunca no Brasil iria deixar o Alexandre perceber meu sofrimento, fazer papel de vitima não combinava comigo, afinal ninguém morre porque levou um pé.
Passei no salão e fiz a unha, pensei também em mudar a cor do cabelo. Sou loira natural, mas mudar sempre é bom. Talvez ficar morena, ruiva, ou só fazer um corte mesmo. No fim acabei desistindo. Gostava demais da cor dos meus cabelos, resolvi então apenas dar uma hidratação e uma escova para finalizar.
O resultado foi divino. Cabelos de comercial de shampoo!
Não resisti e passei no shopping, precisava reabastecer as minhas roupas de escritório. Comprei alguns vestidos, saias, blusas sociais e meia dúzia de sapatos. O que uma tarde no shopping não é capaz de fazer não é mesmo? Saí de lá uma nova mulher.
O Fábio Junior que me desculpe, mas a verdadeira alma gêmea de uma mulher é o seu cartão de crédito!
Já em casa eu tentava me preparar para ver o Alexandre no dia seguinte, teria que ter muito jogo de cintura para lidar com a situação, ele não era mais o meu chefe, mas ainda trabalhávamos na mesma empresa, empresa essa que ele era o dono e então tecnicamente ele ainda era meu chefe.
Não dava para simplesmente fingir que ele não existia. Mais cedo ou mais tarde íamos acabar tendo que trocar algumas palavras em alguma reunião. A melhor tática era ser profissional, não deixar que minha vida pessoal atrapalhasse a minha carreira. Precisava ser superior, mostrar amadurecimento e ser melhor que tudo isso.
E eu era, pode apostar!
O que magoou não foi ouvir que tudo o que aconteceu entre nós não passou de um sexo casual pra ele, mas sim saber que isso era uma baita de uma mentira e que ele falou só para me atingir. Por que ele mentiu? Seria só medo ou tinha algo mais?
Agora isso não importava, seja lá por quais motivos ele tomou sua decisão e por mais que você goste, não pode obrigar ninguém a ficar com você.
No final das contas a derrota foi minha ou dele? Quem escolheu jogar fora as coisas? Quem saiu correndo com medo do que sentia?
Porque apesar de negar veemente ele sente. Pode não ser com a mesma intensidade que eu, mas sente.
Uma lágrima discreta escorreu pelo meu rosto, em seguida outra e mais outra. Não adianta dizer que ele não merecia nenhuma delas, eu sabia disso, mas me permitir ter esse momento, precisava passar por ele hoje porque amanhã seria outro dia.
E em minha opinião essa era a melhor qualidade da vida.
Apesar de tudo ela sempre seguia seu curso.

******

Parecia que me preparava para uma guerra e não um dia normal no trabalho. Coloquei uma das minhas roupas recém compradas: saia lápis preta, blusa social branca e sapatos altos pretos.
Coloquei nas orelhas brincos de prata e uma leve maquiagem no rosto, dessa vez deixei meus cabelos soltos. A cabeleireira havia feito um ótimo trabalho e eu não queria acabar com ele fazendo um coque. Olhei-me no espelho e me senti feminina, mas forte e profissional ao mesmo tempo.
Eu estava pronta.
Cheguei mais cedo do que o meu horário habitual. Sabia que o Alexandre sempre chegava as oito então tentei evitar um encontro. Passei pelo saguão e fui até o elevador. Meus olhos se fixaram no homem que estava parado esperando o elevador chegar.
Oh merda! Parece que alguém teve a mesma ideia que eu.
Preparei-me o final de semana inteiro para aquele momento e agora que havia chegado queria correr como se estivesse em uma maratona, já estava quase fazendo isso quando ele virou e me viu. Seus olhos passaram por meu corpo e o ouvi gemer baixinho. Nos encaramos. Meu coração batia tão rápido que pensei que talvez ele pudesse ouvir.
O elevador apitou dando sinal de que havia chegado, as portas se abriram e a gente continuou no mesmo lugar. Ele estava diferente, com uma expressão cansada de quem não havia dormido a noite inteira. Imaginar o porquê fez a ferida em meu coração abrir mais um pouco. Teria ele passado a noite com alguém?
- Bom dia. – me cumprimentou serio entrando no elevador.
- Bom dia. – respondi displicente.
Era isso que eu tinha que fazer, tratar ele como uma pessoa normal, ser fria.
- Você vem? – perguntou erguendo uma sobrancelha.
Eu poderia dizer que não e o deixar ir sozinho, mas iria ficar claro que estava fugindo. Precisava fingir que ele não me afetava, se tem uma coisa que nós mulheres sabemos fazer como ninguém é dissimular, claro que no bom sentido. Somos divas, seres evoluídos.
Fingimos dor de cabeça quando não queremos transar.
Fingimos não se importar quando na verdade nos importamos.
Dizemos sim querendo dizer não.
Dizemos não querendo dizer sim.
Eu iria tirar aquilo de letra ou não me chamaria Fernanda!
Dei o meu melhor sorriso, respirei fundo e entrei naquela droga de elevador com ele.
- Claro. Por que não iria? – o desafiei.
As portas se fecharam e apertei o botão do meu andar que era um abaixo do dele. Ficamos em silêncio olhando para frente enquanto o elevador fazia o seu curso. Ele pigarreou chamando minha atenção. Acabei olhando-o no mesmo instante que ele virava o rosto para me encarar.  A tensão ficou quase palpável, a saudade também.
Virei o rosto pra frente, mas ele continuava me encarando. O elevador nunca demorou tanto para chegar, eu sei eram muitos andares, mas será que essa merda não poderia chegar um pouco mais rápido?!
E porque ele não parava de me olhar? Aquilo já estava ficando desconcertante!
- Caralho! – esbravejou possesso.
O olhei assustada e ele se aproximou, estava tão perto que pude ver com clareza todo o esplendor dos seus olhos e sentir o seu cheiro tão familiar. Alexandre esmurrou o botão do elevador, as portas se abriram e ele saiu, mas antes voltou a apertar os botões para que as portas se fechassem. Fiquei sozinha boquiaberta no elevador sem entender nada.
Gente o que eu fiz?


Merda!
Tive que sair daquele elevador antes que enfiasse minha língua na boca dela e erguesse suas pernas para que abraçasse minha cintura. Depois eu afastaria sua calcinha para o lado e enfiaria dois dedos na sua boceta molhada até que ela gemesse baixinho no meu ouvido.
Eu não tenho dormido e nem comido direito desde que a tirei da minha vida. Ela parece tão bem, tão confiante e mais linda. Como isso é possível?
Bati com o punho cerrado na minha mesa e soltei vários palavrões.
O que eu tenho que fazer pra tirá-la da minha cabeça?
Vivo com um tesão constante durante todo o dia. Ontem bati o recorde, foram dez. Dez ponhetas. Todas na intenção dela. Desde o desastre com a Patrícia não voltei ao Clube Sex. Do que iria adiantar? Não consigo nem comer outra mulher, quer dizer, se eu me esforçar até consigo, o problema é que não tenho vontade.
E por que diabos ela está tão bem?!
No mínimo deveria estar um pouco triste. Era assim que gostava de mim? Bom falar com todas as letras ela nunca falou, mas deu indícios, não deu?
Ou será que eu imaginei?
E se entendi tudo errado e a Fernanda na verdade nunca quis nada sério comigo? Se for isso fui um idiota de merda, porque a perdi.
- Com licença Sr. Alexandre. – Marta a secretária que contratei para substituir Fernanda entra na minha sala.
- O que é Marta? – pergunto de mau humor.
- É... o Sr. pediu para avisar quando todos estivessem reunidos na sala de reunião. E eles estão lá a mais de vinte minutos esperando pelo senhor.
Porra! Tinha esquecido.
- Eu já estou indo. Estava terminando de analisar alguns... relatórios. – menti.
- Claro eu vou avisá-los. – disse se retirando.
Agora eu tinha uma droga de uma reunião. Tenho que me concentrar, o que vai ser uma missão impossível visto que a Fernanda vai estar lá.
Que Deus me ajude.

******

A maioria dos funcionários administrativos estavam presentes na sala de reunião sentados em volta da grande mesa. Entro e cumprimento a todos com um aceno de cabeça ficando de pé de modo que possa olhá-los nos olhos.
Fernanda está sentada em uma das cadeiras da frente ao lado do Dr. Tomas.
Porra ela tinha que sentar logo aqui? Respira Alexandre.
- Bom o motivo dessa reunião de última hora é uma noticia que quero compartilhar com vocês. O congresso em Veneza superou todas as perspectivas e conseguimos a parceria com os italianos.
A comemoração é geral, cheia de gritos e palmas por um longo tempo. Assim que os ânimos se acalmam recomeço a falar.
- Depois de muita negociação um dos italianos presentes no congresso aceitou a parceria e resolveu fazer parte da nossa equipe. Seu nome é Lorenzo Buttelli, ele estaria aqui presente, até veio comigo de Veneza, mas teve que voltar para Itália devido a...
Perco a concentração. Fernanda nesse momento está com a caneta na boca, seus lábios cheios circulam a tampa da caneta de um jeito extremamente sexy, da mesma forma que ficavam em volta do meu pau.
- Alexandre está tudo bem? – pergunta Dr. Tomas preocupado.
Saio do transe e olho para vários rostos me observando.
- Claro. Como eu ia dizendo... O que mesmo eu estava dizendo?
- O motivo que impediu o Sr. Buttelli de estar aqui hoje. – Fernanda responde com um sorriso nos lábios.
Maldita! Ignore-a Alexandre. É só não olhar pra ela.
- Lorenzo Buttelli infelizmente teve que voltar para a Itália devido a problemas familiares. – continuo seguro evitando a todo custo olhá-la.
- Em que lugar da Itália será a filial? E já temos uma data especifica para a inauguração? – perguntou um dos diretores.
- Será em Roma. Dentro de no máximo seis meses mais uma filial das Organizações McConaughey abrirão as portas. – falei orgulhoso. – A escolha de Roma foi pelo fato de ser um dos centros mais movimentados de negócios em toda a Europa. Não vou negar que tenho uma preferência pessoal por Roma. É claro que o cenário da cidade ajudou muito, recebe turistas o ano inteiro, tem ótimas relações internacionais além de belas... pernas.
Puta que pariu!
Fernanda acabou de dar uma cruzada de pernas a la Sharon Stone que me deixou sem fôlego. Meu corpo esquenta e meu pau acorda para uma ereção latente.
- Belas pernas? – pergunta Dr. Tomas.
Tiro os olhos das pernas da Fernanda e sento imediatamente na cadeira atrás da mesa para esconder minha ereção. Na sala todos me encaram como se eu estivesse louco.
- O que foi? – questiono irritado.
- Você disse belas pernas. – Dr. Tomas responde.
Um ataque de tosse me assalta. Encaro Fernanda e ela tenta esconder um sorriso, vamos ver se ela vai continuar rindo até o fim do dia.
- Eu disse paisagens. – afirmei serio com uma cara de pau impressionante.
- Eu tenho certeza que ouvi pernas. – reafirmou Dr. Tomas. – Vocês também não ouviram?
Um uníssono “sim” se faz ouvir na sala.
Caralho!
Dou um olhar mortal para a Fernanda e levanto da cadeira. Pego alguns papeis e coloco disfarçadamente na frente do meu pau para que ninguém veja que estou duro e a situação piore de vez.
- Estou com uma terrível dor de cabeça e vou pedir para que minha secretária remarque está reunião para outro dia. Com licença.
Saio apressado deixando meus funcionários boquiabertos.
Eu acabo de abandonar uma reunião! Oh merda!

******

Sentia-me um maníaco. Estava a mais de uma hora na sala de copias esperando a Fernanda entrar a qualquer momento. Posso afirmar com toda a certeza que todo mundo já entrou aqui hoje, menos ela.  A cada pessoa que entrava eu me escondia atrás de um dos armários.
Quando a porta se abriu pela milésima vez e quem eu queria entrou e o melhor de tudo sozinha soltei o ar devagar. Eu estava puto com ela. E agora iríamos ter uma conversinha nada amigável.
Fernanda estava tão concentrada tirando xerox que nem percebeu quando sai sorrateiramente detrás do armário e tranquei a porta. Estou sentindo tanta ira que tenho vontade de esmurrar alguma coisa e foi exatamente o que fiz. Dei um soco na porta e ela saltou se assustando.
- Qual é o seu problema hein? – perguntou com raiva. – Ficou maluco?!
- Justamente. Eu vim resolver o meu problema. Vamos conversar. – ditei me aproximando.
Ela ergue a sobrancelha com pouco-caso.
- É sobre a empresa?
- Não.
- Algum problema relacionado ao trabalho?
- Não.
- Então nada do que você possa dizer vai me interessar. – ela pegou as copias que acabaram de sair da maquina e tentou passar por mim, mas continuei exatamente onde estava.
- Sai da frente. – rosna.
- Para que ficar me provocando daquele jeito?! – me irrito pegando forte no seu braço.
Ela dá uma gargalhada e se desvencilha com um gesto brusco.
- Como você é engraçado. Agora tudo o que eu faço é para te provocar? Você não tira os olhos das minhas pernas, quer dizer você não tira os olhos de mim e a culpa é minha?
- É sua! Você fica me atormentando, me provocando. O que você quer com isso porra?! – falo torturado.
Aquela voz desesperada era mesmo minha?
Olho para sua boca e fico aflito. Como sinto falta dela colada na minha. Dou um passo em sua direção e ela se distancia colocando a mão na frente.
- Se você der mais um passo eu grito.
- Agora é assim?
Ela ri sarcástica.
- E você achou que seria como? Eu achei que você já havia me dito tudo o que queria na minha casa.
- O que eu fiz foi o melhor para nós dois.
- Ah agora covardia se chama nobreza? Cara você... – ela para e me olha atentamente, depois assume uma expressão fria. – Você tem razão, foi melhor assim. Foi um engano terrível achar que você seria o que eu precisava.
Eu não digo nada. Suas palavras passam por minhas defesas e atingem como balas um lugar que eu achei que não doeria nunca mais.
- Você não entende. – falo tão baixo que achei que ela não escutaria.
- Então por que você não explica? Quer saber, não quero nem ouvir. O que eu quero é que você me deixe em paz.
Engulo em seco.
Destranco a porta e saio dali prometendo a mim mesmo nunca mais procurá-la de novo. Ela teria a paz que tanto queria.
O pior é que a minha eu havia perdido desde o dia que resolvi tirá-la da minha vida.
Parabéns Alexandre!


Desde aquela discussão super estranha na sala de copias uma semana se passou. Alexandre levou minhas palavras a serio e não veio mais falar comigo. A raiva pelo chute que ele me deu havia diminuído, mas a dor ainda estava presente me torturando cada vez que o via e isso acontecia raramente agora. Ele estava me evitando, sabia disso. A maior parte do tempo ficava na sua sala e evitava ao máximo ir até o andar do Dr. Tomas.
Tomei mais um gole do meu café, estava no refeitório aproveitando algumas horas de descanso.
- Posso me sentar com você?
Ergo a cabeça e Marta me fitava com uma expressão cansada. Quando olhava pra ela só conseguia ver a pessoa que tomou o meu lugar como secretária. Ok ela não tomou, foi ele que me tirou do cargo.
- Claro. – a coitadinha estava com uma expressão tão péssima que não tive coragem de dizer não.
Marta sentou comigo na mesa em uma cadeira na minha frente.
- Eu não estou aguentando mais. – bufou colocando a mão no queixo.
Pisquei os olhos várias vezes. Não sabia se ela estava pensando alto ou se realmente falava comigo.
- Qual o problema dele? É a reencarnação do demônio, só pode! Ele sempre foi difícil de aturar, mas essa semana está insuportável. Nada está bom, tudo o que eu faço está errado. Ele reclama do meu café, dos meus relatórios e das minhas planilhas. Eu tenho absoluta certeza que não tem nada de errado com o que eu faço! Ele que resolveu me pegar para Cristo me crucificando a semana inteira. Pensei até em pedir demissão, é muita pressão, mas não dá. Meu marido acabou de perder o emprego, não posso me dar ao luxo de ficar desempregada. – seus olhos encheram-se de lágrimas e ela colocou as mãos no rosto.
Fiquei meio sem ação com o desabafo, nada me vinha na cabeça para dizer a ela.
- Deve ser... uma fase ruim. – gaguejei.
- Você acha? – me olhou suplicante.
- É. – tentei sorrir.
- Ele está tão estranho...
- Estranho como?
- Tipo ele chega todos os dias com uma cara péssima, típica de quem não dormiu bem.
- Vai ver ele anda tendo noites bem movimentadas. – disse disfarçando uma irritação.
- Oh não. – negou com a cabeça. – Se fosse isso ele não chegaria de péssimo humor. Ele está abatido, eu diria que quase triste.
Abri a boca, mas a voz não saiu. De repente veio uma vontade de olhar pra ele, abraçá-lo ou somente perguntar se estava tudo bem.
Para com isso imediatamente Fernanda! Onde você está com a cabeça?! Foi ele quem quis assim. Ele te deu um chute.
- Bom eu... tenho que ir. – falei me levantando apressada. – Boa sorte com o Sr. Alexandre.

******

            Já era quase fim de expediente quando o Dr. Tomás me chamou na sala dele me pedindo para levar os contratos da nova filial na Itália para o Alexandre. Era a primeira vez que o Dr. Tomás me mandava entregar alguma coisa para ele, é claro que eu não precisaria entregar nas mãos dele, era só deixar com a Marta que ela se encarregaria de encaminhar.
Não precisaria nem vê-lo.
Respirei fundo pegando o elevador, assim que cheguei ao último andar e as portas se abriram uma cena chamou minha atenção.
- Você tem que me deixar entrar lá! – uma mulher elegante gritava.
- Minha senhora acalme-se. O Sr. Alexandre só atende com hora marcada. – Marta explicava com uma calma que estava longe de sentir.
Observei a mulher em questão, deveria ter no máximo uns 35 anos. Era morena com uma pele cor chocolate impecável, seus cabelos castanhos super iluminados caiam até o meio de suas costas, seu corpo cheio de curvas estava coberto por um vestido branco de corte finíssimo.
- Escuta aqui coisinha. – gritou fulminando a Marta com o olhar. – Eu acho melhor você me deixar entrar ali. – apontou para a sala do Alexandre.
Detestei-a imediatamente. Quanta arrogância!
Ninguém tem o direito de tratar nenhum ser humano como se ele fosse inferior. Na minha época já teria colocado aquela barraqueira em seu devido lugar.
Andei a passos largos até chegar onde a cena se desenrolava. A mulher sentiu minha presença e se virou, seus olhos passearam por mim com desdém como se eu fosse uma barata cascuda.
- E você quem é? – me olhou erguendo uma sobrancelha. – Também é secretária dele?
Sorri cinicamente o que fez ela me dar total atenção. Agora mais de perto percebi que ela tinha uns oito centímetros a mais que eu.
- Não. – respondi. – Sou ex-secretária.
Ela deu uma risadinha irritante.
- Pelo visto o Alexandre continua com os mesmos hábitos. Vive tirando as pessoas da vida dele. – insinuou.
Ela parecia ser íntima dele. Agora não só a detestava, como odiava também.
- Também sou uma ex. – continuou. – A diferença entre mim e você é que no meu lugar ele nunca foi capaz de colocar outra.
Agora eu estava literalmente voando pelo espaço sideral. Do que aquela louca estava falando?
Olhei para Marta que também estava com cara de quem não entendia nada, voltei a atenção para a doida de pedra.
- Não entendi. – disse confusa. – Como assim ex?
Ela me avaliou como se estivesse pensando se deveria ou não me responder, por fim sorriu revelando dentes brancos e perfeitos.
- Prazer. – disse estendendo a mão. – Rebeca Ventura. Ex-esposa do Alexandre.
Cuma?
Meu queixo foi pro chão. Pensei não ter ouvido direito ou entendido errado, mas pela cara da tal Rebeca ela disse exatamente o que eu ouvi. Segurei na mesa para não cair, sua mão ainda estendida esperando o meu aperto.
Uma ovada na cabeça dela que eu iria apertar!
Lembra da caixa de pandora?
Pois é, ela acabou de ser aberta. Sabia que o conteúdo não era nada bom, só não imaginei que de dentro dela sairia uma mocréia.

6 comentários:

Unknown disse...

Kkkk gostei do mocreia. Ansiosa pra continuar a lendo.

Josi Novais disse...

Hahaha
Rebeca veio para aprontar muito!

Unknown disse...

Isso é malvadeza, não gosto de ficar tão ansiosa Rsrsrs. Quando sai os próximos capítulos. ..

Josi Novais disse...

Essa semana sai mais um!
Muito obrigada por estar acompanhando... :)

vi_meu_mundo disse...

Como o Alexandre pode aguentar essa mulher insuportável da Rebeca parece uma mulher muito enjoada... pior que gosto de coisas inesperáveis e isso realmente é inesperado, só sinto pena da coitada da Fernando pois vai apimentar quero dizer... salgar mais a vida dela -.-

Josi Novais disse...

Realmente a Rebeca não é flor que ser cheire! Rs
Ela chega para conturbar a vida do Alexandre e da Fernanda, mas vai também fazê-lo entender algumas coisas... *-*

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