A Perigosa Doçura de Alicia
Já era quase noite quando Marta repetiu
pela milésima:
- Fernanda você só pode estar maluca!
- Marta qual o problema? – pergunto
contrariada andando pelo quarto. – É uma ótima oportunidade.
- O problema é que você está fugindo
Nanda! Você não quer ir de verdade, é só uma rota de fuga pelo que aconteceu!
Minhas bochechas queimam. Essa mania
que a Marta tem de acertar em tudo quase sempre irrita.
- Admito estou usando essa viagem como
pretexto para sumir por um tempo. – jogo as cartas na mesa. – O que você quer
que eu faça?! Que eu continue indo para aquela empresa e veja o Alexandre e
aquela vaca todos os dias como forma de punição? Quer que toda vez que eu
esbarre com ele em um corredor eu tenha que fingir que não estou quebrada?
Ela me olha com pena, meus olhos ardem
devido às lágrimas.
- Você não deve estar entendendo o que
estou sentindo Marta e do fundo do meu coração espero que nunca sinta. Eu estou
sangrando, é uma hemorragia que parece nunca ter fim.
Ela anda ate mim e me abraça. Não
consigo segurar o pranto. Sério, se as lágrimas fossem doces ao invés de
salgadas o governo de São Paulo com toda a certeza me chamaria para chorar no
sistema Cantareira.
- Nunca vi duas pessoas mais
complicadas. – ela lamenta. – Nanda eu tenho que voltar para casa, mas também
não queria te deixar sozinha.
Saio do abraço e me esforço para
parecer melhor.
- Eu vou ficar bem. Pode ir tranquila. –
Marta era o tipo de amiga que todos deveriam ter ao lado, sei que uma parte
dela estava sofrendo por mim também.
- Amanhã eu volto e espero ver pelo
menos um sorriso neste rosto bonito.
Dizer que eu estava sem rumo era pouco,
por mais que eu pensasse simplesmente não sabia o que fazer. É difícil tomar
alguma decisão quando se tem um coração ferido dentro do peito. Aos poucos a
dor foi dando lugar à raiva e eu simplesmente não fiz nada para impedir. Raiva
é melhor que dor.
Poderia culpar a Fernanda por não ter
me ouvido? Sim podia. E não adianta me acusar de ter feito o mesmo com ela no
lance da inscrição, já tinha dado um super foda-se para a racionalidade aquela
altura.
Poderia culpá-la por me deixar com o
orgulho ferido? Sim podia. Eu não iria atrás dela para provar minha inocência,
ela que continuasse pensando que transei com a Rebeca. Não tenho motivos para procurá-la,
Fernanda já deixou bem claro o que pensa de mim e de nós.
Eu não devia ter abandonado minhas
convicções e aberto o meu coração para sentir sentimento algum. Eu voltaria a
ser o que era. E ela... bem... ela encontraria um Top Ten para lhe dar filhos.
Eu só precisava fazer o meu coração e a
minha cabeça entrarem em acordo para esquecê-la.
Acordei no domingo um pouco melhor,
pelo menos era nisso que eu queria fielmente acreditar. A dor ainda estava lá
me massacrando e me puxando para o fundo do poço.
Quando a minha campainha tocou aquela
manhã pensei em não atender. Não queria ver ou falar com ninguém, exceto com a
Marta. Levantei da cama e me arrastei até a sala, se fosse o Alexandre ele ia
ver só uma coisa.
Ignorei meu coração aos pulos com a
simples ideia de ser ele e abri a porta.
- Bom dia.
Tentei por um sorriso no meu rosto para
responder ao cumprimento do Murilo.
- Oi. Bom dia.
- Eu trouxe sorvete, filmes e um ombro
amigo para te tirar da fossa. – ele sorri me entregando um pote de sorvete e
alguns filmes de comédia romântica.
- Quem te disse que estou na força? –
ergo uma sobrancelha um pouco irritada.
- Bom... você não está conseguindo
disfarçar. – ele responde me deixando sem graça. – Brigou com o namorado?
Limpo a garganta e me apoio na porta.
- Terminamos.
Um brilho passa pelos olhos dele, mas
some rápido.
- Se eu disser que acho isso uma pena
estaria mentindo feio. – ele me dirige um olhar significativo. – E então? Não
vai me convidar para entrar?
Engulo em seco.
Eu não tinha absolutamente nada contra
o Murilo, exceto o fato dele me deixar desconfortável na maioria das vezes. É
óbvio que ele não estava ali somente para me oferecer o seu ombro amigo, ele
queria me dar o seu corpo inteiro, só faltava bater a minha porta embrulhado no
papel de presente com um laço vermelho.
A partir de agora eu era uma mulher
descompromissada e ninguém poderia me condenar por deixar um visinho entrar na
minha casa, mas pra mim aquilo não era certo. Eu não me sentia solteira, pelo
contrario, parecia estar mais amarrada ao Alexandre do que nunca. O amor é uma
maldita corrente inquebrável.
- Murilo obrigada pela atenção, pelo
sorvete e pelos filmes, mas eu prefiro ficar sozinha. Não ando sendo uma boa
companhia para ninguém.
Ele tenta disfarçar a contrariedade com
um sorriso torto.
- Do que você tem medo Fernanda? De mim
ou de você mesma?
- Não é medo, mas eu não sou mais
criança. Assim como eu não disfarço a minha fossa, você não disfarça o seu
interesse. – tento não soar irônica.
Ela dá uma risada.
- Você é uma mulher bonita,
inteligente, doce e sedutora. Não há como não se interessar.
Resolvo deixar as coisas bem claras pra
ele, como já deveria ter feito há muito mais tempo.
- Acontece que eu sou apaixonada pelo
meu ex-namorado e por mais que eu odeie admitir isso, sei que vou amá-lo para
sempre. Não sei nem se vou ser capaz de me relacionar com alguém daqui a algum
tempo, quanto mais agora.
- Você está querendo dizer que eu não
tenho chances? – ele aperta os olhos pra mim.
- Sim.
Ele se aproxima de mim. Ficamos cara a
cara. Olho no olho.
- Essa é a primeira vez que uma mulher
me diz não. – ele acaricia a pele macia do meu rosto e eu me afasto. É como se
eu fosse a presa e ele o caçador. – Nunca quis tanto uma mulher como te quero.
– ele passa a mão pelos cabelos em um completo tormento. – Você se tornou um
maldito afrodisíaco pra mim desde que pus meus olhos em você.
- Murilo...
- Não precisa dizer nada. – ele me
interrompe. – Nada do que você me disser vai me fazer desistir de te ter.
Ele saí e pega o elevador. Só consigo
me sentir segura quando fecho a porta do meu apartamento.
******
É quase meio-dia quando o meu celular
toca. Abro um sorriso quando vejo o numero da Marta no visor.
- Nanda! Como você está meu bem?
- Eu estou melhor.
Aquilo era uma mentira deslavada.
Exceto para atender a porta mais cedo para o Murilo eu não havia colocado os
pés para fora da cama.
- Sei que fiquei de ir aí, mas tive uma ideia melhor. Por
que você não vem almoçar comigo e com o Sérgio? – pergunta animada.
Eu estava péssima. Certamente
estragaria o almoço da Marta e do marido dela.
- Marta eu estou sem fome. – o que não
era nenhuma mentira. Não comia nada desde ontem e parecia não sentir falta.
- Você já almoçou?
- Não.
- Então não tem essa de não estar com fome. Estou te
esperando! Anota o endereço da minha casa agora!
- Mas Marta...
- Anda Fernanda! Agora! Aposto que você não comeu nada!
Reviro os olhos e levanto da cama
pegando um pedaço de papel e caneta.
- Tá eu vou. – faço bico. – Fala o
endereço.
Assim que anotei o endereço, tomei um
banho. Vesti jeans, regata e calcei sapatilhas. Nem me dei ao trabalho de olhar
no espelho, sabia que meus olhos estavam inchados e meu rosto pálido.
Em apenas um dia perdi todo o brilho da
minha vida.
******
O almoço na casa da Marta foi melhor do
que eu imaginava. Sergio, marido dela, é muito divertido e me fez rir muito,
quase, eu disse quase me esqueci do
tormento em que a minha vida se encontrava.
Depois do almoço Sergio foi assistir TV
e Marta me chamou para conhecer o quarto que ela estava preparando para a
chegada do bebê. Como ainda não sabia o sexo, a decoração estava um pouco
neutra, mas já tinha alguns brinquedos e o berço.
- Está ficando lindo Marta.
Ela acaricia a barriga e me olha um
tanto emocionada.
- Não vejo a hora de olhar para a
carinha do meu filhote.
- Ou filhota. – contradisse.
Marta sorri.
- Eu acho que vai ser menino, quando
você estiver grávida vai entender esses pressentimentos.
Abraço o meu próprio corpo.
- Quem sabe um dia...
Ela me estuda.
- Preparada para encontrar o Sr.
Alexandre amanhã?
- Farei de tudo para que isso não
aconteça. – sussurro. – Eu não vou conseguir olhar pra ele.
- Acho bem difícil vocês não se
esbarrarem. A empresa é grande, mas nem tanto assim. Fora que os dois são
padrinhos do meu bebe. O que você fará no dia do batizado? Vai me dar um bolo?
Puta que pariu! Eu tinha me esquecido...
Encaro a Marta com um pedido silencioso
nos olhos que ela entende no mesmo instante.
- Fernanda nem pensar. Eu não posso
desconvidá-lo!
- Marta...
- Não Fernanda! Se ele não quiser ser
padrinho que diga ele mesmo, agora desconvidar eu não irei.
- Marta eu não vou conseguir...
- Sim, você vai. Ainda tenho sete meses
de gestação pela frente, tempo suficiente para que você se prepare para este
momento. – ela dá de ombros.
- Você sabe que não vai ser só no
batizado que teremos que nos encontrar! – protesto quase desesperada. –
Padrinhos são para a vida inteira.
- O amor que vocês sentem um pelo outro
também.
Franzo o cenho.
- Ele transou com a ex Marta! Que tipo
de amor é esse que?
Ela coloca as mãos na cintura.
- Se você quer mesmo saber a minha
opinião eu acho que esta história está muito mal contada! Fernanda você já
reparou no jeito que ele olha pra você? É como se você fosse o mundo dele.
Sinto uma dor aguda no peito.
- Parece que ele não se lembrou disso
enquanto rolava com ela nos lençóis.
Marta suspira.
- Desculpa tocar nesse assunto... é só
que é difícil acreditar, ainda mais com a Rebeca. Fernanda ele odeia aquela
mulher, você precisava ver como ele ficava quando ela aparecia na sala dele. Eu
escutava os gritos dele da minha mesa.
Marta sente que estou refletindo sobre
o que ela disse, então continua.
- Eu estava pensando... lembra quando
você pegou ela beijando ele? – faço que sim com a cabeça. – As coisas que ela
disse para que você acreditasse apenas no que os seus olhos viram? Possa ser
que eu esteja fantasiando isso Nanda, que ele seja realmente o cafajeste que
dormiu com ela, mas e se estiver
acontecendo a mesma situação agora? E se toda aquela cena não passou de uma
armação da Rebeca?
- É impossível Marta. – afirmo banindo
aquela esperança do meu coração. – Como você explica ela estar no apartamento
dele, vestindo a camisa dele? Marta ele estava marcado de batom! O cheiro dela
estava na pele dele! – lágrimas começam a banhar meu rosto ao me lembrar
daquela cena nojenta.
Ela
me olha com um ar triste.
- É realmente eu não tenho explicação
para isso. Como eu disse pode ser uma fantasia da minha cabeça.
- Eu sei que você nos queria juntos. –
falo em um fio de voz. – Mas é assim mesmo Marta, nem sempre as coisas dão
certo. Eu já estou me conformando.
- Não se conforme querida. A vida nem
sempre é justa.
- É, nem sempre. – dou um suspiro. – Eu
vou indo Marta. Preciso descansar e me preparar para amanhã. Vai ser um dia
difícil.
- Ah, mas tão cedo Nanda! – lamenta.
- Já abusei demais de você. – brinco.
- Você nunca abusa!
Saímos do quarto e Marta me leva até a
porta. Antes de ir embora me viro para encará-la.
- Você não acha que se ele fosse
inocente já teria me procurado?
Ela sorri.
- Ainda pensando sobre isso?
- É... só um pouco...
- Nanda eu realmente não sei... talvez
tenha sido uma fantasia da minha cabeça. – diz com pesar.
Não tinha explicação. Não tinha desculpas... meu coração
precisava aceitar aquilo. Sei o que vi.
- Tchau Marta. – me despeço.
- Até amanhã meu bem.
Levantar da cama e encarar o mundo
naquela segunda-feira foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Eu não tinha
vontade de nada, Deus não estava sendo justo comigo.
Quando cheguei à empresa me tranquei em
meu escritório, tentei ler os meus arquivos ou me situar na minha agenda, mas a
concentração simplesmente não vinha.
Cacete! Se isso não passar eu vou acabar afundando essa
empresa...
Uma batida na porta me assustou, logo
em seguida Marta entrou e se sentou a minha frente.
- Bom dia Sr. Alexandre. A reunião com
o financeiro marcada para o sábado assumi eu mesma. Acredito que passei todos
os dados da forma que o senhor planejou. Quanto às outras duas reuniões tive
que desmarcar, era essencial a sua presença. Posso remarcá-las para hoje?
- Remarcar o que? – pergunto confuso.
- As reuniões. – ela franze o cenho. –
O Sr. não ouviu nada do que eu disse?
- É claro que ouvi Marta. – minto
afrouxando o nó da gravata. – Pode marcar as... as...
- Reuniões. – ela completa me
estudando.
- Isso. As reuniões para esta tarde.
Desvio os olhos para a tela do meu
computador onde o rosto da Fernanda é usado como plano de fundo. Marta limpa a
garganta chamando minha atenção.
- Eu acho que é melhor adiarmos as
reuniões. – ela começa. – Pelo menos até amanhã.
- Faça o que você achar melhor. –
respondo de mau humor. – Agora se você puder sair, eu vou agradecer.
Ela continua no mesmo lugar.
- Vocês dois estão se matando. –
comenta.
- Não estou entendendo.
- Você e a Nanda. – ignoro a batida
forte que o meu coração dá quando escuto “Nanda”.
- Marta eu acho que te pedi para sair.
– falo em um tom grosso.
Ela me ignora.
- Você está bem pior que ela. É como se
nem estivesse aqui, digo seu corpo está, mas só isso.
- Marta sai da minha sala. Agora. –
digo entre dentes.
- Você transou com a Rebeca? – ela
pergunta e eu tenho que fazer um esforço enorme para não gritar.
- Com que direito você me pergunta uma
coisa dessas? – levanto da cadeira muito puto.
- Com o direito de quem tem uma amiga
muito querida com o coração quebrado. – ela me enfrenta se levantando também.
- Tenho certeza que a sua amiga já te
contou o que aconteceu. – falo irônico. – Portanto dê o fora.
- Responde a minha pergunta e eu
prometo que saio.
Respiro fundo e encaro aquela enxerida.
- Eu transei com a Rebeca. Sou o
cafajeste que a sua amiga pintou. – alego em um tom sério sentando na minha
cadeira. – Agora sai.
Ela dá um sorriso.
– Você não transou com ela. Você está
mentindo. Eu sabia! – ela dá um pulo. – A Rebeca armou não foi?
Levanto e ando até a janela ficando de
costas para ela.
- Ela está sofrendo Sr. Alexandre.
Procure a Nanda e faça ela te escutar.
- Eu não vou procurar ela Marta. Ela
que pense o que quiser. – digo amargo.
- Você não pode fazer isso! Ela te ama
e está sofrendo! Vocês dois estão!
Permaneço em silêncio.
- Ela vai embora. – Marta sussurra e é
como levar um soco no estômago. – É isso o que vai acontecer se você não for
falar com a Nanda. Ela vai para a Itália.
- O que tínhamos acabou. O que ela faz
de agora em diante não é mais da minha conta. – fecho os olhos e encosto a
cabeça no vidro da janela.
- Pensei que você a amasse, mas parece
que me enganei.
Viro-me para encará-la.
- Me diz que motivos eu teria para ir
atrás de uma mulher que deixou bem claro para mim que nunca seria feliz comigo?
- Ela disse isso pra você? – pergunta
incrédula.
Engulo em seco e dou um sorriso amargo.
- Disse e eu acho que ela deve ter boas
razões. – meu orgulho estava ferido. – Agora me deixa sozinho. Por favor.
Peço num fio de voz e ela sai fechando
a porta.
Meu celular da um pequeno BIP, olho no
visor e tenho uma mensagem da Marta.
Ei garota precisamos conversar. Estou
atolado no trabalho, meu horário de almoço será reduzido, mas que tal um
jantar? É urgente!
Eu queria ir para casa assim que saísse
da empresa. Teria que começar a me preparar para a viagem, só precisava dar a
minha confirmação na diretoria. A viagem estava marcada para daqui a duas
semanas.
Marta tem que ser hoje? Estou um pouco
cansada e estava pensando em ir direto para casa começar a me organizar para a
viagem. :(
Recebo uma resposta em seguida.
Fernanda que parte do “É URGENTE” você não entendeu?!
Reviro os olhos.
Tudo bem... as 19h30h no japonês na esquina da empresa?
Ela responde.
Fechado!
Dou um sorriso e guardo o meu celular
voltando a digitar um relatório no computador. Estava fazendo um ótimo trabalho
em evitar o Alexandre, a manhã já estava quase chegando ao fim e eu ainda não
havia saído do meu andar para absolutamente nada. Ele também parecia estar me
evitando, não havia me procurado (tenho que admitir que tinha esperança de que
ele o fizesse, nem que fosse para tentar me enganar com alguma história
cabeluda).
- Olá. Você deve ser a Fernanda. – ouço
uma voz doce e ergo a cabeça para dar de cara com uma bela moça dona de um
sorriso lindo.
- Oi. – digo meio confusa sem saber
quem é ela e como sabe o meu nome.
A observo melhor, ela é da minha altura
só que bem mais magra e com curvas delicadas. Tem cabelos lisos em um tom
castanho com medida um pouco acima do ombro, ela possui lindos olhos também na
cor castanho. Na verdade ela é toda bonita.
- Não está reconhecendo a minha voz? –
pergunta gentilmente em um tom de brincadeira.
- Desculpe, mas... não. – respondo constrangida
me levantando da cadeira e dando a volta na mesa parando a sua frente.
Puta merda ela é ainda mais perfeita de perto.
- Alicia, filha do Dr. Tomas. Ligava
para cá praticamente todos os dias e era sempre você que passava a ligação para
o meu pai.
- Nossa me desculpe... – dou uma
risada. – Sou péssima em reconhecer vozes.
Ela se aproxima e me da um beijo no
rosto.
- Desculpas aceitas.
- Mas você morava em Miami, certo?
- Sim. Cheguei ontem a noite. Estou
longe do Brasil há dois anos estudando moda, mas com o AVC da mamãe o papai me
pediu para voltar. Esperei somente o semestre terminar para retornar. Vou ficar
um tempo com meus pais.
- Tenho certeza que será uma grande
alegria para a família.
- Mamãe está radiante, papai um tanto
preocupado. – ela sorri. – Das três filhas sempre fui a que dei mais trabalho.
Por falar nele, ele está? – pergunta apontando para a sala.
- Infelizmente não, mas você pode
esperar. Ele não deve demorar.
- Obrigada, mas passei só para dar um
beijo nele. Na verdade eu vim ver outra pessoa. – ela sorri. – Bom foi um
prazer conhecer você Fernanda!
Ela me dá outro beijo.
- O prazer foi meu Alicia.
Ela acena com a mão e caminha até o
elevador.
Minha manhã na empresa pode ser
resumida em apenas uma frase: olhei o tráfego de carros pela grande janela de
vidro do meu escritório.
Eu não conseguia me concentrar em nada,
não iria adiantar me afundar no trabalho. Sabia que tinha que entrar em ação o
mais rápido possível para tirar a Rebeca da empresa e da minha vida, depois de
tudo é insustentável a permanência dela aqui. Se eu tivesse que continuar
olhando para a cara dela faria uma loucura mais cedo ou mais tarde.
A merda do investigador que contratei
ainda não havia retornado da Nova Zelândia, depois daquele e-mail dizendo que
havia conseguido marcar um encontro com a filha de um dos homens mortos com
quem a Rebeca se envolveu ela não mandou mais nenhuma notícias. Precisava que
ele descobrisse alguma coisa capaz de me ajudar a afastá-la da minha fodida
vida de merda.
Ouço uma batida na porta e me viro a
tempo de ver um rostinho lindo que eu não via há mais ou menos dois anos.
- Alicia? – franzo o cenho.
- Posso entrar?
Caminho até a porta e a puxo para
dentro.
- É claro que pode sua maluca! Meu Deus
me deixe olhar para você... você está linda.
Ela sorri e me abraça apertado, muito
apertado na verdade.
- Ai que saudade Alexandre. Falei para
a sua secretária que não precisava me anunciar, queria fazer uma surpresa.
As mãos de Alicia começam a me apalpar
durante o abraço, passam por meus braços, descem por minhas costas e quando
chegam a minha... ah... bunda eu dou um pulo e seguro em seus ombros me
afastando.
- E que surpresa! – falo sem graça. –
Quando você chegou?
Ela me encara com fome.
- Mais que merda Alexandre, você continua
gostoso e eu apaixonada.
Passo as mãos pelos cabelos
envergonhado. Alicia é a única mulher capaz de me deixar sem graça.
- Alicia, por favor, não começa...
Ela dá uma risada.
- Eu já sei o que você vai dizer: “Eu
não sirvo pra você e respeito muito o seu pai.” – ela imita o meu jeito de
falar.
- Ainda bem que você ainda se lembra. –
dou um sorriso.
Alicia era uma maluca em grau elevado.
Desde que colocou os olhos em mim cismou que eu era o homem de sua vida. Ela
dava em cima de mim sem parar e eu tentava me esquivar como podia, mas quando
ela invadiu a minha sala e me atacou eu tive que falar com o pai dela.
Respeitava demais o Dr. Tomas para tocar na filha dele. E eu tinha certeza que
ele não iria me querer envolvido com a Alicia, ela sabia o tipo de vida que eu
levava. Depois do episodio na minha sala o Dr. Tomas praticamente forçou a
Alicia a ir embora para Miami e eu não a vi desde então.
- Eu não acredito que depois de dois
anos você vai continuar com essa desculpa. Tenho vinte e dois anos, sou experiente,
adulta e vacinada. – ela brinca me olhando com interesse.
- Você não muda nunca. – dou uma
gargalhada.
Ela pisca pra mim.
- Pelo contrario, eu mudei. Estou
bastante comportada.
- Duvido. – digo cruzando os braços.
- É sério! – ela ri me batendo. – Não
sou mais aquela maluca que entrou na sua sala e te agarrou. Não consigo me lembrar
daquela cena e não rir, nunca te vi correr tanto.
Gargalhamos juntos.
- Seu pai quase te mata.
- Porque você me dedurou! – ela me
acusa cerrando os olhos.
- Você estava passando dos limites e eu
não sabia mais o que fazer... – me defendo com bom humor.
Nos olhamos por um tempo e então ela
quebra o silencio.
- Bem... eu vim te ver e cobrar o meu
jantar.
- Jantar? – ergo a sobrancelha.
- Você não lembra? Eu estava deixando o
meu pai louco dizendo que não ia para Miami nem sob tortura. Então você
prometeu que se eu viajasse numa boa na próxima vez que nos encontrássemos você
me levaria para jantar.
Dou um sorriso sem graça coçando a
barba.
- Alicia não ando sendo uma companhia agradável.
- Eu não me importo. – ela abre um
sorriso. – Vamos Alexandre, por favor, prometo que não dou em cima de você até
esse bendito jantar terminar. Tenho tanta coisa para te contar...
Não consigo dizer não.
- Tudo bem. Sempre cumpro o que prometo
e já que você garantiu se comportar...
- Isso! – ela pula e me abraça outra
vez. – Vou estar te esperando no saguão umas sete horas. Tudo bem?
Assenti e ela me meu um beijo carinhoso
no rosto saindo pela porta.
Era quase sete da noite quando desci para
o saguão. Trabalhei até um pouco mais tarde, não queria encontrar com o
Alexandre, eu seria capaz de desmoronar na frente dele.
Fiquei de jantar com a Marta no japonês
para que ela me contasse o tal assunto urgente.
No momento em que eu saía para fora da empresa me esbarrei com a Alicia.
- Nossa Fernanda me desculpa.
- Não tem problema... também estava
distraída. – dou um sorriso.
- Deveria pedir ao papai um aumento,
está saindo muito tarde. – ela olha no relógio.
- Imagina... seu pai é o melhor chefe
do mundo. Tenho prazer em trabalhar para ele. Mas e você? Seu pai já foi embora
há mais ou menos uma hora.
- Ah, mas eu não voltei pelo papai. –
explica em tom confidente. – Eu vou é jantar com um pedaço de mau caminho e
para que ele não escape vim buscá-lo.
Eu gargalho. Ela era muito engraçada.
- Então bom jantar. – digo já descendo
as escadas quando ela grita.
- Ah lá vem ele!
Eu me volto por puro reflexo para ver o
Alexandre vindo em nossa direção e ele está rindo para a Alicia, quando me vê o
sorriso dele morre.
Engulo em seco e o meu modo estátua
entra em modo on. Não consigo me afastar antes que ele chegue.
- Boa noite. – ele cumprimenta nos
duas.
- Ótima noite! – Alice responde
animada, eu não consigo responder, apenas o encaro.
Minha cabeça ao raciocina muito bem a
velocidade dos fatos. Primeiro ele era o meu namorada, depois dorme com a
Rebeca, nós terminamos e então ele já está saindo com outra. Pior com a filha
do meu chefe!
Ele desvia os olhos do meu e encara
Alice.
- Vamos?
Sinto uma dor no estomago. Meus olhos
começam a queimar. Deus não permita que eu chore! Não na frente deles.
- Sim. – o celular da Alicia começa a
tocar. – Oh é a mamãe, eu tenho que atender. Volto em um minuto Alexandre.
Ela se afasta e ficamos sozinhos.
Todo o ódio, dor e tensão se torna
palpável. Encaramo-nos e então ele desce as escadas e vai em direção ao carro
dele.
- Que tipo de cafajeste você é? –
pergunto e ele se vira pra mim. Faíscam saem dos seus olhos.
- Como é que é?
- Sua fila anda bem rápido. – digo
irônica. – Meu Deus como eu fui burra!
- Não Fernanda o único burro fui eu. –
ela retruca amargo. – Eu nunca deveria ter apostado na gente.
Libero uma risada sarcástica.
- Agora resolveu apostar na filha do
Dr. Tomas?!
Ele se aproxima de mim, o suficiente
para que eu sinta sua respiração quente.
- Eu acho que isso não é da sua conta.
– ele diz entre dentes. – Eu vou esperar a Alice no carro porque sinceramente
eu nem consigo mais olhar na sua cara.
Lágrimas dessem dos meus olhos.
- Eu é que não consigo olhar pra você!
– retruco passando a mão no meu rosto. – Você não passa de um...
Ele puxa o meu braço.
- De um o que? Vai me chamar de seco de
novo? Jogar na minha cara que eu sou incapaz de engravidar você ou qualquer
outra mulher?
Fico envergonhada.
- Eu não quis dizer aquilo...
- Você quis dizer exatamente aquilo. – ele me interrompe e solta o meu braço como se
ele queimasse.
- Vou esperar a Alicia no carro.
Alexandre me dá as costas.
- Eu odeio você. – falo em um fio de
voz aquela mentira. Ele para e se vira devagar.
Alexandre fita a minha boca, depois
sobe o olhar e me olha nos olhos.
- Parece que em alguma coisa ainda
concordamos.
Ficamos ali, feridos, encarando um ao
outro.
- Pronto! Era a mamãe querendo saber
para onde fui. – Alice volta e parece não perceber o que acontece entre a
gente. – Vamos Alexandre.
- Vamos. – ele responde ainda me
olhando.
- Tchau Fernanda.
- Tchau.
Alexandre abre a porta do carro para
ela, Alice entra saltitante. Ele dá a volta no veículo e me olha mais uma vez
com mágoa, dor, raiva antes de abrir a porta e entrar.
Fico ali parada até perder o carro de
vista.
8 comentários:
Aaaah que droga parece que só tá complicando cada vez mas a situação ;(
Ansiosa para ver os próximos capítulos.
Pensei que você havia me abandonado! :(
Realmente as coisas estão se complicando, fico até sem saber como se resolverá essa bagunça!
#ForçaNandaEAlexandre
Estou com raiva dos dois, caiu muito facil a Nanda nessa jogada ....triste quando sai os próximos capítulos josi.
Nossa que capitulo. Excelente.
Nossa que capitulo. Excelente.
Regina sema que vem e ele está pegando fogo!!!
Grazi sempre tão querida!!!!
EU QUERO MAIS quando sai o próximo tá cada vez melhor PARABENS
Obrigada! Postei um hoje e amanhã posto outro! <3
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Olá pessoal, gostaria muito de saber a opinião de vocês sobre o que está sendo postado. Comentem a vontade...