sábado, 24 de janeiro de 2015

Série Rendida - Novais J.


O tipo de dor que arrasta para o olho do furacão...

Quatro anos antes...

- Alexandre o que você quer é simplesmente insano. Eu não posso fazer isso.  – Lucas levanta de sua cadeira e começa a passear pelo seu consultório contrariado.
Eu já havia tomado a minha decisão, não me desloquei de São Paulo até o Rio de Janeiro para ouvir um não como resposta.
- Então você se recusa?
Ele para de andar e me encara. Lucas era um dos poucos amigos que eu ainda mantinha contato desde que fui embora para São Paulo, na verdade ele era uma das poucas pessoas que eu não havia apagado da minha vida e do meu passado.
- Você tem ideia do que você está me pedindo?! Isso pode ser irreversível Alexandre!
- Tudo bem. – me levanto da cadeira já de saco cheio. – Vim até aqui porque você é meu amigo e é o melhor e único urologista que eu conheço. Mas já que não quer me ajudar procurarei outro. – dou um sorriso cínico me dirigindo para a porta.
- Só porque não deu certo com a Rebeca não quer dizer que em algum lugar não exista uma moça boa e decente para você reconstruir sua vida. – ele fala e eu paro com a mão na maçaneta. – E se você se arrepender? Encontrar uma mulher? Se apaixonar? Consequentemente ela irá querer uma família...
Giro meu corpo e o enfrento.
- Eu. Não. Quero. Filhos. – dou ênfase a cada palavra. – Eu gosto de mulher Lucas, gosto pra caralho e os tipos de mulheres com quem ando me divertindo sabem muito bem a minha opinião, mas daí a confiar que elas respeitarão minha decisão é pedir demais.
- É incrível como você mudou, o cara com quem eu estudei durante todo o ensino médio não era tão frio e calculista. – joga contra mim. – Eu não tenho nada a ver com a sua vida, mas esse caminho pelo qual você insiste em seguir não vai te trazer nada de bom.
Era só o que me faltava, deixar que os outros mostrem como devo seguir com a minha vida.
- Infelizmente os contos de fadas com direito a esposa perfeita e filhos perfeitos, assim como a sua vida, não são para todos.  – rebato no auge da ironia. – Agora se você me permite, tenho que procurar um urologista que queira me atender.
Já abria a porta quando sua voz se fez ouvir.
- Espera. Você está mesmo certo de que é isso o que quer?
- Pensei que houvesse deixado bem claro pra você. – cruzo os braços.
Ele senta em sua cadeira e me olha derrotado.
- Sendo assim eu faço o procedimento. Melhor eu do que qualquer outro.
Fecho a porta sem deixar de sorrir e volto a me sentar na cadeira à sua frente.
- Quero que seja o mais rápido possível. – aviso entusiasmado.
- Já perdi as contas de quantos homens bateram na porta desse consultório querendo reverter o procedimento, alguns porque se arrependeram, outros porque se separaram de suas esposas e se casaram com outras que queriam filhos. Infelizmente a reversão nem sempre dá certo com todos. – narra não sei se pra mim ou pra ele mesmo.
- Desta estatística eu nunca farei parte. - zombo seguro de mim mesmo.
Ele me encara.
- Lembra do nosso professor de inglês do ensino médio? – pergunta e eu assinto meio sem entender essa mudança repentina de assunto. – Eu gostava muito de uma frase que ele citava em suas aulas quando algum aluno dizia que nunca iria para a recuperação na matéria dele: “never say never.”. Traduzindo para um bom português significa...
- Nunca diga nunca. – o interrompo. – Lembro que eu era um desses alunos que dizia que nunca ficaria de recuperação e realmente eu nunca fiquei. – dou um sorriso de escárnio.

Dias atuais...

Sempre achei que soubesse o que era sentir dor, mas Fernanda me mostrou que eu estava enganado. A dor que sentia agora era maior do que qualquer outra que já experimentei na vida. Se o que ela queria era me fazer sentir um lixo de homem fez um excelente trabalho. Suas palavras passaram como balas pelo meu coração e só pararam ao atingir a minha alma já tão escura.
Nunca imaginei que ela me via daquela forma.
Seco.
Não foi exatamente essa a palavra que ela usou? Talvez eu fosse mesmo. Onde eu estava com a cabeça quando imaginei que logo eu poderia me entregar à felicidade, tirar os meus pés do chão e tocar as estrelas. Era essa a sensação que experimentava quando estava com ela.
Eu já não tinha mais um coração saudável para entregar a ninguém, o meu era cheio de mágoa, manchas e feridas, mas Fernanda me fez ter fé de que valeria a pena entregá-lo a ela mesmo assim.
A culpa era minha, eu sempre soube que nunca poderia ser o que ela esperava, cedo ou tarde ela iria acabar jogando aquilo na minha cara. Hoje, meus maiores medos se concretizaram: ela se cansou da pessoa fodida que eu sou, ela desistiu de mim e eu a perdi.
Eu ainda chorava enquanto o elevador subia para a cobertura e o pior é que eu estava acompanhado de dois seguranças. Não me importei, nada mais importava. Quando as portas se abriram passei a mão pelo rosto tirando a presença das lágrimas. A porta do meu apartamento ainda estava aberta como eu havia deixado, o que significa que aquela vadia ainda estava ali.
Entrei no apartamento e os seguranças vieram atrás. Encontrei Rebeca na sala, ela havia tirado a minha camisa e vestia um sobretudo.
- Trouxe os seguranças para me expulsar? – ela sorri se aproximando de mim.
- Tirem essa vagabunda da minha frente. – rosno baixo para os seguranças.
Eles tentam segurar nos braços da Rebeca, mas ela se desvencilha erguendo as mãos em sinal de paz.
- Não precisa. Vou sair por contra própria. – me encara. – Levou um chute da Lindinha não foi? Ela não acreditou em você... Palavras não são capazes de expressar o tamanho da minha felicidade Baby. Ela foi só a primeira coisa que você perdeu, eu vou te tirar tudo. Quero te ver na lama se rastejando aos meus pés e implorando para que eu volte pra você. Eu vou fuder com a sua vida.
Meu corpo ficou rígido e eu não pensei duas vezes quando fechei minha mão no pescoço dela e a empurrei contra a parede.
Quis matá-la. Acabar com a merda da vida dela. Livrar o mundo de um ser nojento.
- Você já acabou com a minha vida. Duas vezes. – começo apertando mais o seu pescoço. – Como eu me arrependo de não ter colocado você e aquele desgraçado em uma sela imunda quando tive oportunidade. – dou um sorriso amargo e ela respira com dificuldade. – Eu é que vou fuder com a sua vida. – ameaço. – Comesse a se preparar.
A empurro contra os seguranças e eles a tiram da cobertura.
Senti-me mais do que sozinho quando a porta do apartamento foi fechada. Meus olhos marejaram quando pensei na Fernanda e eu chorei feito criança deitado no chão da sala. 


Quando cheguei ao meu prédio corri para o elevador, não queria que ninguém me visse naquele estado. Alexandre quebrou tanto o meu coração que nem se trouxessem um super bonder para colar pedacinho por pedacinho não teria nenhum resultado.
 Quando as portas do elevador se fecharam e eu percebi que não estava sozinha quis morrer. Estava começando a achar que existia pelo menos uns três Murilos, não tinha um só dia que eu não esbarrasse com ele.
- Fernanda? Puta merda você está chorando... O que aconteceu? – pergunta preocupado pegando em meus braços e me obrigando a encará-lo.
- Nada. – desvencilho-me limpando minhas lágrimas. Nunca no Brasil eu iria contar que dei o maior flagra no meu namorado e na ex-mulher dele. Chifre não é troféu pra você sair ostentando.
 - Como nada... – ele pega em meus cabelos em um gesto de puro carinho. Fala sério! Não tem coisa pior do que você estar mal e vim alguém te consolar, você chora ainda mais, é como um cano que explode. – Ei... tudo bem se não quer me contar, só não fica assim...
Eu não conseguia parar de chorar, chegava a soluçar. Murilo parecia não saber o que fazer, foi então que ele me puxou para um abraço. Eu me deixei ir, não tive forças para recusar, apenas descansei a minha cabeça no peito dele.
- Minha mãe costumava dizer que tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve. – sussurra enquanto suas mãos afagam minhas costas.
Fiquei ali não sei por quanto tempo. Só me afastei quando as portas do elevador se abriram no andar dele.
- Você vai ficar bem? – ele deposita um beijo na minha testa.
Não consigo falar apenas aceno a cabeça dizendo que sim.
- Se precisar conversar é só se lembrar que eu estou um andar abaixo do seu. – ele pisca pra mim.

******

- Fernanda eu não posso acreditar! – Marta senta na minha cama de boca aberta.
Eu havia ligado pra ela assim que entrei em casa a pedindo para vim até aqui. Alguém precisa segurar a minha barra, não estava dando conta de fazer isso sozinha.
- Se eu não tivesse visto... eu também não iria acreditar. Mas ela estava lá Marta usando as roupas dele se sentindo dona da casa. – afirmo assoando o meu nariz em um lenço.
Uma cena deprimente.
Eu estava deitada na minha cama vestindo um pijama de ursinhos, embrulhada com um lençol até o pescoço em plena tarde de sábado.
- O que pode ter acontecido para ele ter feito uma merda dessas...
- Simples. Ele estava com raiva de mim, encheu a cara, a Rebeca foi consolá-lo e aproveitou para enfiar aqueles peitões na cara dele então ele deve ter pensado: “por que não relembrar os velhos tempos?”.
Marta me encara.
- Mesmo assim eu não consigo imaginar...
- Sempre acontecem coisas que nunca imaginamos. – falo com a voz embargada. – Eu nunca imaginei que o Michael Jackson fosse morrer, mas ele morreu; nunca imaginei que o Brasil fosse perder para a Alemanha de 7 x 1, mas perdeu e eu nunca imaginei que o Alexandre seria capaz de me esfaquear pelas costas daquele jeito e veja só o resultado.
Marta deita ao meu lado na cama e eu encosto a cabeça em seu ombro.
- Oh querida... eu sinto muito.
- Eu não vou aguentar vê-los juntos na empresa Marta. Seria masoquismo demais para suportar. – lamento.
- Não é porque ele teve esse momento de fraqueza que voltará para ela.
- Eu não duvido mais de nada.  – afirmo. – Saí da empresa tão esperançosa em me acertar com ele sabe...
- Eu sei meu bem. – Marta me abraça mais apertado.
- Não vou ser capaz de encará-lo de novo.
- Nanda você vai ter que ser capaz, cedo ou tarde vocês vão se esbarrar naquela empresa.
Eu gemo colocando a mão no peito.
- E o pior de tudo é que eu ainda o amo. Como pode Marta? Ele arrasou comigo e eu não consigo parar de amá-lo? Porra isso dói pra caramba.
- Nanda eu não sei nem o que te dizer. – ela beija os meus cabelos. – Estou com tanta raiva dele também...
- Não precisa dizer nada Marta. Você abandonou sua casa, seu marido e veio até aqui só para me escutar. – agradeço beijando o rosto dela.
- Sei que faria o mesmo por mim. – Marta fica séria de repente. – Nanda ele não te deu nenhuma explicação?
- Que explicação Marta? – pergunto magoada. – Não tem explicação! Ele me traiu! Transou com a Rebeca!
- É você esta certa... – ela suspira desanimada.
Ficamos em silêncio e eu sou a primeira a falar.
- Tomei uma decisão. – conto brincando com os meus dedos.
- Que decisão? – ela franze o cenho.
- Eu vou compor a equipe que irá para a Itália. – digo de uma vez.
Marta me encara sem acreditar.
- Você o que?!

6 comentários:

Unknown disse...

Como sempre maravilhoso. Parabéns.

Unknown disse...

Como sempre maravilhoso. Parabéns.

Unknown disse...

Josi tenho o livro da Nana Pavolli chamado tentação. Gostaria de compartilhar com VC para postar no sit. Como faco pra te mandar. Bjoss.

Josi Novais disse...

Oi Grazi primeiramente obrigada pelo elogio. Em segundo eu vi o seu e-mail, mas fiquei sem saber de quem era depois que vi as mensagens aqui no blog que me toquei hahahaha
Obrigada pela gentileza, postarei sim. :)

Unknown disse...

Gostei do 7×1 kkk desolada com o Alexandre e a NAnda...

Josi Novais disse...

Eu também Regina. Fernanda e suas tiradas hahahahahaha
Triste pelo nosso casal...

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