domingo, 1 de março de 2015

Série Rendida - Novais J.


Por um triz
Quando o despertador tocou naquela manhã pulei da cama animado, há muito tempo não me sentia tão vivo, a certeza era clara de que eu me livraria de uma vez por todas da presença da Rebeca na minha vida. Prometi ao delegado que estaria na delegacia logo pela manhã, liguei para o Umberto para que ele me encontrasse lá, liguei também para a Marta, ela precisava saber que talvez eu não apareceria na empresa pela manhã.
- Marta talvez eu passe toda a manhã na delegacia. – aviso já dentro do carro. – Desmarque meus compromissos e reuniões.
- Tudo bem Sr. Alexandre, o único importante era a apresentação do projeto do Dr. Tomas, acho que podemos reagendar para a tarde.
Bato a mão no volante.
- Merda eu tinha me esquecido! Marta por favor, tente reagendar.
- Sim senhor. Farei isso.
- E a Fernanda? – pergunto antes que ela desligue.
Ouço o som da risada da Marta.
- Ela deve estar na sala dela Sr. Alexandre, por que ao invés de me perguntar não liga para saber como ela está?
- O que? – falo incrédulo espumando de raiva. – Ela está na empresa?! Ela foi trabalhar?!
- Sim, eu não posso amarrá-la na cama Sr. Alexandre.
- Vocês são malucas ou o que?! Marta ela devia estar na sua casa! O Murilo pode estar de tocaia em algum lugar esperando ela aparecer... e se ele seguir vocês?!
- Sr. Alexandre me desculpe, mas a Nanda tem um emprego. Fora que hoje o Dr Tomas apresenta o projeto e ela faz parte da equipe dele...
Corro as mãos pelos cabelos impedindo a minha boca de soltar um palavrão.
- Marta convença aquela maluca a não por os pés para fora da empresa até eu chegar ai. – digo entre dentes.
- Por que não liga e convence você mesmo? – Marta me provoca.
Reviro os olhos.
- Marta não complica as coisas ta legal?!
- Você nem consegue disfarçar.
- Disfarçar o que? – pergunto irritado.
- Que é louco por ela.
Marta desliga e eu fico parado olhando para o tempo com o coração comprimindo dentro do peito.
******
Na delegacia eu e o delegado acertávamos os detalhes do meu plano.
- O juiz deve assinar a autorização à tarde. – o delegado informa olhando de mim para o Umberto.
- Droga! – resmungo. – Pensei que poderíamos por o plano em prática hoje...
- Sem uma autorização judicial as declarações da Rebeca não poderão ser usadas como provas Sr. McConaughey. – o delegado Garcia explica mudando de posição na cadeira. – Tem certeza que a sua empresa é o melhor lugar para isso?
- Será um escândalo Alexandre... – Umberto intervém preocupado.
Olho de um para o outro.
- Será um escândalo de qualquer forma. Prefiro que tudo ocorra lá, é um campo neutro. – sigo firme em minha decisão.
O delegado assente.
- Então assim que o expediente acabar eu e a minha equipe instalaremos todo o equipamento. Acho melhor estar lá Sr. McConaughey, para acompanhar tudo.
- Eu estarei. – afrouxo o nó da gravata e encaro o delegado. – Antes de toda essa confusão começar eu havia contratado um detetive particular para investigar a vida da Rebeca nos últimos dez anos, achei que poderia achar algo que me ajudaria a tirá-la da minha empresa.
- Sim... – o delegado afirma. – Você mencionou isso ontem quando contou sobre a sua história.
- Pois é... depois do seu telefonema ontem a noite ele me ligou logo em seguida.
- Ele descobriu alguma coisa?! – pergunta Umberto em expectativa.
 - Ele chega hoje a São Paulo com a polícia da Nova Zelândia. – explico.
Umberto fica pasmo e o delegado apóia os braços em cima da mesa e me fita intrigado.
- Com a polícia?
- Eu não sei de detalhes, mas parece que ela está sendo acusada de três assassinatos por lá. – levanto da cadeira onde estava sentado até então e caminho um pouco pela sala enquanto falo. Umberto e o Delegado Garcia acompanham o meu relato. – O detetive disse que assim que chegar a São Paulo me ligaria para marcamos um encontro. O que vai acontecer agora Delegado? A Rebeca cometeu assassinato em dois países, ela será extraditada?
Delegado Garcia cruza as mãos sobre a mesa antes de me responder.
- Veja bem Sr. McConaughey, alguns países não extraditam os seus nacionais, o Brasil é um deles. No entanto, em face da regra de inextraditabilidade de nacionais, as nações que a aplicam são obrigadas por um princípio geral do direito internacional público, a tomar a si a jurisdição sobre o crime ocorrido no exterior.
- E isso quer dizer exatamente o que? – pergunto confuso.
Umberto encara o delegado e eles trocam um olhar de entendimento antes do Umberto tomar a palavra.
- Isso quer dizer que se o Brasil não extrair a Rebeca terá que processá-la, em uma linguagem mais clara, ela será processado em território brasileiro, pelo crime que cometeu em solo estrangeiro.
- Então ela vai se safar? – indago puto.
- A regra de inextraditabilidade de nacionais não é sinônimo de impunidade Sr. McConaughey, pelo contrário, impera-se neste caso o critério de justiça penal universal. – o delegado contrapõe.
- O que o delegado disse é a mais pura verdade Alexandre. – Umberto volta a falar. – Como o Brasil e a Nova Zelândia não tem tratado de extradição a Rebeca provavelmente ficará sujeita a pena penal brasileira, é claro que esta extensão da jurisdição nacional dependerá muito do implemento de certas condições. Se isso ocorrer, teremos o que chamamos de extraterritorialidade da lei penal, ou seja, a transferência da causa criminal da Nova Zelândia para o Brasil.
- Então além de responder pelo assassinato do Marcos no Brasil, também cursa aqui o processo e o julgamento pelos crimes cometidos no exterior?
- Correto. – Umberto assente. - A jurisdição brasileira passa a ser extraterritorial, baseada em provas colhidas no exterior e, eventualmente, com outras aqui reunidas.
Dou um sorriso torto.
- O ruído das algemas se fechando nos pulsos da Rebeca será o meu som preferido por um bom tempo. Esse plano tem que dar certo...
- Não se preocupe Sr. McConaughey, caso as coisas amanhã não saiam como o planejado, já temos indícios suficientes para encurralar aqueles dois criminosos. Todos os caminhos os levarão para o mesmo destino: a cadeia. – garante o delegado.


Dou uma leve batida na porta da sala do Dr. Tomas e entro logo em seguida. Ele está sentado a sua mesa e tem os olhos compenetrados na tela do computador os levantando assim que percebe a minha presença. Dou um sorriso e me sento na cadeira a sua frente.
- O senhor me chamou. – afirmo e ele assente. – É algo relativo à apresentação do projeto para os diretores da empresa na reunião de hoje?
Dr. Tomas tira os seus óculos colocando-os sobre a mesa e me fita.
- Sim Fernanda, é sobre a reunião.
- Foi algo que me esqueci de acrescentar no projeto final? – pergunto apreensiva.
Ele da um sorriso.
- Não Fernanda, ele está perfeito. – suspiro aliviada. – A chamei aqui porque quero que você apresente o projeto para os Diretores.
- E-eu? – gaguejo e ele assente. – Mas por que Dr. Tomas? Não está se sentindo bem?
- Estou perfeitamente bem Fernanda, mas quem apresentará o projeto será você.
- Assim em cima da hora? – minha voz sai insegura. – Dr. Tomas eu não posso... o projeto é seu...
- Fernanda ele é nosso. – ele me interrompe. – Você trabalhou tão duro quanto eu, algumas das ideias e intervenções presentes lá foram suas. Acredito que você é capaz de dizer linha por linha do projeto agora se eu lhe pedisse.
Realmente eu seria capaz, aquele projeto era importantíssimo para o Dr. Tomas, havia revisado ele inúmeras vezes nas últimas semanas para que não houvesse nenhum erro, mas daí a apresentá-lo para uma banca de diretores era outra história.
Respiro fundo e tento dissuadi-lo daquela ideia maluca.
- Dr. Tomas não acho conveniente que eu, a sua secretária, apresente este projeto. Então eu terei que declinar do convite.
Ele me deu um sorriso determinado.
- Acontece que isso é uma ordem do seu chefe, não um convite Fernanda. – o encaro estupefada. – Portanto acho que você não tem outra saída a não ser apresentar com maestria. Boa sorte.
Engulo em seco e me retiro da sala. Sabia que não adiantava espernear, o Dr. Tomas já havia tomado a sua decisão.
******
Antes do almoço, Marta me mandou um SMS avisando que estava me esperando no refeitório para almoçarmos juntas. Desci com um montante de papeis, desde que fui compelida a apresentar aquele projeto o estava estudando sem trégua. É obvio que eu o sabia de cor e salteado, mas estava insegura e o Dr. Tomas me avisou em cima da hora!
Isso não se faz!
Eu tinha uma responsabilidade muito grande nas costas, se não apresentasse bem todo o esforço do Dr. Tomas seria jogado no lixo.
Dr. Tomas você é um patrão mau... muito... muito mau!
- Avemaria Fernanda! Será que você não poderia ter deixado esses papeis na sua sala?! Tinha que trazer para o refeitório?! – Marta me pergunta franzindo o cenho.
- Marta eu estou ferrada! – me jogo na cadeira e espalho os papéis na mesa. – Você acredita que o Dr. Tomas me colocou para apresentar o projeto hoje na reunião?
- Serio?!
- Estou com medo de estragar tudo. – coloco a mão no queixo derrotada.
Marta dá um sorriso.
- Nanda se ele fez isso é porque confia em você. Aposto que você vai arrasar.
Solto um suspiro pesado torcendo para que a marta esteja certa como sempre.

Eu e o Umberto saímos da delegacia quase no horário de almoço, aproveitamos para almoçar e conversar um pouco mais sobre toda essa confusão. O detetive ainda não havia me ligado e aquilo estava me deixando bastante inquieto, na delegacia o delegado me orientou a não deixar transparecer nada para a Rebeca, era melhor ela continuar acreditando que eu estava encrencado com a polícia.
Saí do restaurante direto para a empresa, Umberto disse que iria resolver assuntos pessoais e depois do expediente apareceria por lá para acompanhar a operação da polícia junto comigo. Assim que estacionei o carro na porta da empresa e entreguei as chaves para o manobrista dei de cara com a Alicia.
- Vamos lá! Quero uma boa explicação por ter rejeitado as minhas ligações nos últimos dois dias. – ela cruzou os braços com a expressão fechada.
Subi os degraus até ela com um sorriso no rosto.
- Alicia me desculpe, mas muita coisa vem acontecendo.
Entramos no saguão lado a lado.
- Que sorte a sua Alexandre! Estou com tempo de sobra para um café. – ela sorri entrando na minha frente e me fazendo parar. – Você procurou a Fernanda para ouvir a versão dela sobre aquele acontecimento?
- Digamos que a verdade bateu na minha porta. – respondo olhando para ela. – Fernand estava falando a verdade naquela noite, meu irmão e a minha ex-mulher estão infernizando a minha vida e usando pessoas inocentes, como a Fernanda, para me atingir.
- Como assim? – pergunta curiosa.
- Alicia quanto menos você saber melhor, juro que quando tudo isso estiver resolvido eu te conto desde o inicio.
Ela coloca a mão no meu peito em um sinal de apoio.
- Tudo bem, eu espero. Mas você pode contar comigo para qualquer coisa, mesmo que queira só relaxar. – os olhos dela ficam mais escuros e eu posso ver o desejo neles.
Tiro a mão dela do meu peito um tanto sem graça.
- Obrigado Alicia, você é uma boa amiga. – dou uma ênfase maior a palavra amiga.
Ela revira os olhos para mim, mas assumi uma expressão triste a seguir.
- Você e a Fernanda se acertaram?
- Não.
- Por quê? Está na cara que você é louco por ela.
Não consigo conter um sorriso.
- Você é a segunda pessoa que me fala isso hoje.
- Talvez porque seja verdade. – ela me puxa pela mão. – Vem Alexandre, como uma boa amiga eu vou te pagar um café.
E assim sou arrastado até o refeitório.


Depois do almoço, Marta e eu continuamos no refeitório. Ela me olhava de dez em dez segundos e aquilo já estava me irritando.
- Marta diz logo o que você quer dizer! – bufo parando de ler o projeto.
- Ele te ligou? – ela pergunta.
- Não. – respondo incomodada. – Ligou para você?
- Pela manhã para desmarcar os compromissos. – afirma rodando o anel em um dos dedos. – Ele iria dar uma passada na delegacia.
- Hum... – dou de ombros.
- Ele perguntou por você e ficou furioso quando soube que você tinha vindo para a empresa com o Murilo a solta por aí.
- Eu tenho um trabalho Marta. – franzo o cenho.
- Foi o que eu disse a ele.
Dou um suspiro cansado.
- Eu acho que agora ele vai começar a me evitar, conheço o Alexandre.
- Sabe Nanda... eu acho melhor você esperar toda essa confusão passar para voltar a conversar com ele. – fito a Marta enquanto ela fala. – Sei lá, dê um tempo a ele e a você também.
- É talvez seja melhor. – abaixo a cabeça fugindo do olhar dela.
- Ai meu Deus! – Marta exclama e eu a fito. – Nanda não olhe agora. – ela pede olhando para um ponto além de mim.
Puta merda para que ela foi dizer aquilo?! É claro que quando uma pessoa diz “não olhe agora” sua primeira reação é olhar. Viro para trás e o Alexandre está sendo puxado pela mão pela Alicia, eles acabam de entrar no refeitório.
Não consigo parar de olhá-los, eles ficam tão bem juntos, parecem aqueles casais de filmes americanos. Ela, linda em um vestido branco e saltos altos e ele imaculável em um terno azul escuro.
- Nanda pelo amor de Deus para de olhar! Você está dando a maior bandeira!
- Olhe para eles Marta. – falo com uma dor no coração. – Parecem tão... perfeitos.
- É ela é realmente linda. Que cútis, que corpo, que classe... e aquele cabelo? O que é aquele cabelooo? Parece que acabou de sair de um comercial da Garnier Fructis.
Encaro a Marta.
- Nossa Marta! Valeu ae! Da próxima vez que estiver pra baixo já sei quem procurar para me fazer sentir melhor. – a fulmino com o olhar.
Ela fica sem graça.
- Ai Nanda desculpa, mas foi você quem começou dizendo que eles são perfeitos. – cerro os olhos para ela. – Ok... ok... não está mais aqui quem falou.
Alexandre e Alicia andam pelo refeitório procurando um lugar para sentar e eu me encolho na cadeira torcendo para que eles não me vejam.
- Eles estão indo embora. Todas as mesas estão cheias. – Marta sorri da minha situação, estou praticamente embaixo da mesa.
Tento me sentar de uma forma digna antes de falar algo.
- Melhor assim. – dou de ombros incomodada.
- Nanda você está se contorcendo de ciúmes... – ela provoca.
- Marta eu fiz o homem que eu amo acreditar que não é bom o suficiente para mim, agora ele está sozinho, livre, leve e solto com uma mulher como a Alicia correndo atrás dele! Como você quer que eu fique?!
Marta coça a cabeça entendendo a minha condição.
- Sabe ela nem é tão bonita assim... – ela mente na maior cara de pau.
- Sei. – resmungo irônica.
- Tá legal! – ela espalma as mãos em sinal de rendição. – Ela é linda e eu no seu lugar estaria preocupada e me descabelando.
- A Alicia é legal, divertida e do bem. Alguém totalmente possível dele se envolver. – dou voz aos meus pensamentos. – Pela primeira vez estou me perguntando se eu já não o perdi de fato.
- Está pensando em desistir e deixar a Alicia conquistar o seu homem?
Olho para ela determinada.
- Eu não vou desistir dele, mas também não posso obrigá-lo a ficar comigo.
- Isso é verdade. – concorda com um ar triste.
Olho no relógio em meu pulso e dou um salto na cadeira começando a recolher os meus papéis.
- Puta merda! A reunião começa em meia hora!
- Ai Cristo! Tenho que entregar a pauta para o Sr Alexandre! – Marta se desespera se levantando também.
Corremos juntas para o elevador.

- Já que o café não deu certo que tal um jantar? – Alicia pergunta já dentro do elevador.
- Não vai dar Alicia. – declino do convite, afinal preciso ficar na empresa para acompanhar o trabalho da polícia, isso me lembra que ainda não avisei ao Dr. Tomas que a sala dele virará uma concentração policial amanhã.
- Bom você fica me devendo um café então.
As portas do elevador se abrem e paramos no andar do Dr. Tomas, ela sai com um sorriso no rosto.
- Vou ficar aqui, quero dar um beijo no papai.
Dou um aceno com a cabeça e as portas se fecham, subo para o meu andar.
******
Na minha sala, eu assinava alguns documentos quando Marta entrou. Ela parou na frente da minha mesa e eu ergui o olhar para encará-la.
- A pauta da reunião. – ela diz me entregando uma pasta.
Pego e em seguida olho no relógio.
- Meia hora atrasada Dona Marta. – reclamo.
Ela revira os olhos para mim.
Isso é o que dá virar amigo dos funcionários, você pede a moral.
- Eu estava no refeitório conversando com a Nanda. – ela explica. – Aliás, vi quando você entrou lá com a Alicia, ou melhor, eu e a Nanda vimos. – conclui me lançando um olhar de censura.
Contraio o maxilar.
- A Alicia é apenas uma amiga, não que isso seja da sua conta.
- Só espero que não cometa a sandice de usar uma para esquecer à outra.
Não acredito no que ela acaba de dizer.
- Marta não estou tendo nada com a Alicia e com nenhuma outra mulher. – a fulmino com o olhar.
Ela abre um sorriso e se acomoda confortavelmente na cadeira a minha frente.
- Ótimo porque não darei minha benção caso fique com outra que não seja a Nanda.
Fico boquiaberto.
- Desde quando eu preciso da sua benção criatura?
Ela se faz de ofendida.
- Depois de tudo que tenho feito por vocês, mas é claro que precisa! Praticamente virei anjo da guarda.
Não contenho uma gargalhada.
- Acho que por mais que eu agradeça nunca será o suficiente, você tem sido maravilhosa.
- Se no final eu poder ver vocês dois felizes terá valido a pena. – ela pega em minha mão sobre a mesa.
Tento falar algo, mas ele me corta.
- Não se prive da felicidade, temos essa mania horrível de achar que não existe um caminho, mas o amor sempre acha algum. – ela sorri e se levanta, antes de sair pela porta vira para mim. – Pense nisso.

Quando entrei na sala de reuniões praticamente todos já se encontravam, dei um aceno de cabeça como cumprimento e me sentei ao lado do Dr. Tomas.
Logo em seguida o Alexandre entrou, nossos olhos se encontraram e ficamos presos por um tempo incalculável. Ele caminhou até a cabeceira da mesa com muita elegância e se sentou.
- Está pronta? – Dr. Tomas cochicha no meu ouvido.
Respiro fundo.
- Darei o meu melhor. – dou um sorriso.
- Eu sei disso. – ele assegura.
Alexandre pigarreia chamando a atenção de todos os presentes.
- Boa tarde, daremos inicio a reunião de pauta desta semana para tratar da apresentação do projeto de posicionamento estratégico da empresa chefiado pelo Dr. Tomás Gonçalves de Aquino, Diretor Comercial.
- Um momento Alexandre. – Dr. Tomas pede a palavra. – A apresentação ficará a cargo da minha secretária Fernanda de Bragança.
Todos me olham um pouco surpresos e o Alexandre ergue uma sobrancelha em forma interrogativa.
- Foi um pedido meu. – Dr. Tomas sai em minha defesa. – Fernanda sabe todas as nuances do projeto tão bem quanto eu e tenho absoluta certeza que fará uma ótima apresentação.
Dou um sorriso e me levanto indo para frente do Data Show, contenho o meu nervosismo e começo a minha apresentação.
Tiraria aquilo de letra ou não me chamava Fernanda!


Prestar atenção ao que Fernanda dizia estava muito difícil, linda em um vestido preto com o comprimento alguns centímetros acima do joelho e calçando uma sandália vermelha de salto altíssimo ela tirava a atenção de qualquer um. Os cabelos estavam presos em um coque frouxo expondo o pescoço delgado, um convite tentador para a minha boca distribuir boas mordidas.
Respirei fundo expulsando aqueles pensamentos da minha cabeça, proibi o meu pau de continuar a latejar daquela forma vergonhosa dentro da calça e me forcei a prestar atenção ao que ela dizia, quando fiz isso fiquei orgulhoso. Fernanda não era só um rostinho bonito, ela era inteligente e tinha uma mente brilhante.
Conduziu com maestria sua apresentação, expondo a estratégia comercial da empresa e determinando os acordos e condições de venda interna. Ela trouxe dados novos para o projeto como a política de preços que seguia fielmente as negociações comerciais de alto nível e as principais contas da empresa.
O projeto era perfeito, é claro que tinha a experiência do Dr. Tomas por trás daquilo, mas pude perceber toques de modernidade e novas ideias que em absoluto pertenciam a ela.
Ao final quando recebeu um festival de aplausos percebi o seu suspiro de alivio, é claro que eu sorria como um bobo, mas não me importei. Estava muito... mais muito orgulhoso e feliz pelo sucesso dela.
- Me desculpem pelo atraso. – a porta da sala de reuniões foi aberta e a Rebeca entrou sentando em uma cadeira vaga. – Se o presidente desta empresa fizesse o favor de me avisar das reuniões eu não chegaria sempre atrasada, até parece que não sou uma das acionistas.
Os diretores se entreolharam entre si com um pouco de desconforto.
- Como acionista minoritária a sua presença nas reuniões não é tão importante Rebeca. – retruquei de mau humor.
Mantenha a calma Alexandre, falta pouco para essa assassina sair da minha vida.
Ela me fulminou com o olhar e encarou a Fernanda.
- Ah claro, já os seus casos tem acesso livre.
Fernanda ficou vermelha de raiva e deu um passo na direção da Rebeca, resolvi tomar as rédeas da situação antes que aquela reunião virasse um ringue.
- Fernanda. – chamo a atenção dela de forma significativa. – Parabéns pela apresentação, queira se sentar por favor.
Ela assente e volta ao seu lugar.
- Bom o projeto está perfeito, não vejo necessidade de fazer nenhuma alteração. – os diretores assentem em concordância. – Deste modo trabalharemos para que ele entre em vigor no dia primeiro do mês que vem.
- Alexandre tenho algo a dizer. – Dr. Tomas intercede.
- Fique a vontade.
- Bom... gostaria de aproveitar que todos estamos aqui para dar uma notícia. Pensei muito antes de tomar essa decisão, eu amo o meu trabalho e as pessoas que me cercam neste ambiente, no entanto, sinto que não tenho mais o mesmo gás da juventude. Já sou um velho de sessenta e seis anos. – ele sorri fazendo todos gargalharem. - Chega o momento em que um homem tem que dar valor a outras coisas, confesso que demorei até demais para isso, todos devem ter conhecimento do AVC da minha esposa, enquanto ela estava na cama de hospital eu me permiti pensar um pouco mais na minha vida. Percebi que ela passa rápido demais e talvez eu não tenha muitos anos pela frente para degustar ao lado da minha família. É por isso que eu decidi me aposentar.
Um “ohh” se fez ouvir na sala.

O baque da notícia tomou a todos de surpresa e o burburinho foi grande. Dr. Tomas era um dos funcionários mais queridos e ele estava nos deixando.
- Amigos acalmem-se, por favor. – Dr. Tomas pede tentando conter os ânimos exaltados. Assim que todos se silenciam ele volta a falar. – Ainda tenho algo a falar, com a minha aposentadoria quero indicar para o meu lugar a minha secretária Fernanda de Bragança.
- Eu?! – exclamo surpresa quase caindo da cadeira.
O burburinho começa novamente e o Dr. Tomas fala alto tentando se fazer ouvir.
- Eu sei que ela é jovem, mas essa moça tem uma competência e atino para os negócios fora do comum. Isso ficou mais do que claro com a sua apresentação brilhante nesta sala, além de que, Fernanda elaborou muitos dos pontos explanados e elogiados por vocês aqui hoje.
- Dr. Tomas.... e-eu... – balbuciou nervosa. – Não posso assumir o seu cargo.
- É claro que não pode! – Cobreca-Assassina se levanta da cadeira aos gritos. – Ela não passa de uma secretária!
- Fernanda é competente Rebeca e tem Graduação em Administração de Empresas para a sua informação. – Dr. Tomas sai em minha defesa.
- O senhor é um velho gagá que não sabe mais o que está fazendo! Onde já se viu indicar a secretária para um cargo de alto nível?! Acredito que muitos aqui estão esperando uma promoção há anos!
Alguns diretores concordam com a Rebeca e a situação passa de caótica para desconfortável.
Eu não quero o cargo do Dr. Tomas, não acredito que esteja nem ao menos preparada, mas não posso deixar aquela vaca falar assim com ele.
- Não fale assim com ele! – me levanto colocando o dedo na cara dela.
- Rebeca respeite o Dr. Tomas. – a voz do Alexandre é dura. – Ele é um profissional exemplar e sem igual, as Organizações McConaughey não chegariam ao patamar de hoje sem o seu empenho e afinco, portanto qualquer opinião que ele dê aqui deve ser respeitada. Se o Dr. Tomas indica a Fernanda para substituí-lo devemos ponderar e discutir a sua decisão civilizadamente, sei que ele nunca indicaria alguém que não estivesse apto para o cargo.
Rebeca rir sarcástica.
- Mas é claro! Tem uma mão inteira sua nessa decisão do velho! Vejam só diretores, ele quer promover a amante.
Alexandre fica puto.
- Eu não estou promovendo ninguém Rebeca, a indicação é do Dr. Tomas e como tal será analisada e debatida pelos Diretores, não por você! – vocifera.
- Sou acionista Alexandre! – ela grita. – E eu sou contra essa indicação.
Agora já chega! Não vou deixar aquela megera assassina me desmoralizar.
- Eu não quero o cargo do Dr. Tomas. – todos os olhos se voltam para mim. – Dr. Tomas agradeço a indicação, de coração, mas não posso aceitar. O senhor é a melhor pessoa do mundo e me ensinou muito, mas é muita responsabilidade, não irei conseguir...
- Isso só mostra o quanto estou certo Fernanda, a empresa precisa de sangue novo. Você é jovem, sagaz, competente e tem uma qualidade essencial para este cargo: a sensibilidade de buscar o melhor para todos.
Rebeca bate palmas ironicamente.
- Bravo! Tenho que reconhecer o quanto você é esperta garota!
- O que você quer dizer com isso? – pergunto perdendo a paciência.
- Que você usou o caminho mais rápido para a ascensão profissional. – sorri malévola.
Dou a volta na mesa e fico frente a frente com aquela naja. Alexandre se levanta e vem ao meu encalço parando atrás de mim.
- Cala essa boca. – aviso.
- Dá cama do Alexandre para a Diretoria! – ela grita. – Abriu as pernas para o velho gagá também querida?
- Ahhhhh! – grito e fecho a mão no cabelo dela sacolejando de um lado para o outro. – Não me confunda com você sua vagabunda!
 Alexandre me segura pela cintura me levantando do chão, mas o cabelo da Rebeca eu não solto de jeito nenhum, eu vou deixar aquela cobra careca!
- Solta o meu cabelo sua maluca! – Rebeca grita.
Um dos diretores puxa minhas mãos e Cobreca fica livre.
- Estão vendo! É essa selvagem que assumirá a Diretoria?! – a megera provoca.
- Eu vou te matar. – volto a avançar nela, mas o Alexandre entra na frente.
- Fernanda para com isso! Estamos na sala de reuniões.
- Isso Alexandre... defenda sua cadelinha.
- Quem você pensa que é para falar de qualquer pessoa! Você não passa de uma a... – não completo a frase, Alexandre me segura pelas pernas e me põe no ombro tirando-me da sala de reuniões como se eu fosse uma criança de oito anos de idade.


Ando pelo corredor com a Fernanda no ombro chamando a atenção de todos, ela esperneia batendo nas minhas costas e exigindo que eu a solte. Entro na minha sala e só então a solto jogando-a no meu sofá furioso, a expressão dela também não é das melhores.
Ela se levanta abaixando o vestido que havia subido bastante.
- Eu não acredito que você me humilhou dessa forma em uma reunião da Diretoria! O que você pensou que estava fazendo?! – me fulmina com o olhar.
- Salvando a sua vida. – digo entredentes. – Você quase disse que a Rebeca era uma assassina, já não basta o Murilo atrás de você? Quer que a Rebeca te mate como queima de arquivo?! Ela não pode saber que descobrimos tudo Fernanda! Porra ela é perigosa.
Ela enfia o dedo no meu peito.
- Você me tirou de lá nos ombros! Foi humilhante! Me diz com que cara vou olhar para as pessoas agora?!
- Você é um galo de briga Fernanda, precisa controlar esse gênio. Não é partindo para a agressão que resolverá as coisas. – a repreendo. – A Rebeca é perigosa.
- Eu sei me defender ta legal?! – ela tenta passar por mim, mas a seguro pelo braço. – Me solta!
- Não solto! – puxo-a para mim. Ela está ofegante e descabelada, as bochechas rosadas devido a raiva.
A encaro e meu olhar desce para aquela boca fodidamente apetitosa. Por que simplesmente eu não consigo ficar longe?
As lembranças do meu sonho na noite passada vem a tona, a forma como eu a fodi na areia da praia debaixo da chuva faz meu pau pulsar.
- Que se dane! – dou um super foda-se para todos os motivos pelos quais eu deveria ficar longe dela e a jogo no sofá.
Caio logo em seguida a beijando louco, quase desesperado. Exijo mais quando minha língua se encontra com a dela, exploro cada canto daquela boca e minha mão voa para sua perna, percorro o caminho devagar sentindo a textura tão magnífica de sua pele. Ela geme quando chego a lateral de sua calcinha e segura minha mão.
- Se você não pretende levar isso até o final não continua. – pede em um murmúrio.
É claro que ela estava se referindo a ontem quando parei na hora H. Acompanho faminto o movimento de sua boca e ela morde os lábios esperando minha resposta.
Saio de cima dela e a encaro.
- Me desculpa... eu perdi a cabeça.
Fernanda não consegue esconder sua tristeza, ela ajeita o vestido e se senta vulnerável. Soco-me internamente e meu pau me xinga dos piores nomes.
- Eu vi você e a Alicia juntos hoje. – sua mudança de assunto me pega desprevenido.
- O motivo que me fez parar não tem nada a ver com a Alicia, é sobre eu e você... já te disse que...
- Eu sei. – Fernanda se levanta parando bem próxima de mim. – Pelo amor de Deus Alexandre eu te amo! – o tom dela é desesperado. – Eu não estou nem aí se não vou ter a família perfeita com você, eu só quero poder... viver isso entende. Ter você todos os dias e dividir esse amor que me sufoca!
Congelo com as palavras dela, suas palavras são as minhas. Se privá-la do sonho de ser mãe é egoísmo então eu quero ser egoísta agora. Dou um passo ao seu encontro acabando com a distância.
Cacete por que ficar com ela parece ser o certo a se fazer?
Levo minha mão até o seu rosto em uma caricia suave e ela fecha os olhos sentindo o meu toque.
- Fernanda eu...
Meu celular toca e o som é uma invasão a esse momento, ela me olha pedindo com aqueles olhinhos para que eu complete o que iria dizer, mas eu me afasto e atendo ao celular.
- Alexandre falando.
- Sr. Alexandre acabo de chegar a São Paulo, será que podemos nos encontrar? – reconheço a voz do detetive e ando até a grande janela de vidro na minha sala.
Não quero que a Fernanda saiba, pelo menos por enquanto dos outros três assassinatos da Rebeca.
- Claro, eu não posso sair da empresa agora será que poderia ser aqui?
- Perfeitamente senhor. Dentro de mais ou menos uma hora.
- Deixarei ordens para que seja encaminhado a minha sala assim que chegar.
- Combinado. – o detetive desliga e eu guardo o celular no bolso.
Cacete! Se não fosse essa ligação eu teria jogado tudo para o alto...
Viro-me perdido, mas não vejo Fernanda em lugar algum.
Ela havia ido embora.
Ainda podia sentir o seu cheiro na minha sala e o seu gosto na minha boca.
Dou um suspiro profundo me amaldiçoando por ser tão fraco. Quero ir atrás dela, mas para dizer o que?
Que a amava também, mas sentia muito?
Que não podíamos basear o nosso relacionamento apenas em sexo?
Que precisávamos de mais... um mais que eu não saberia de onde tirar?
Merda de vida!

12 comentários:

vi_meu_mundo disse...

Ai que fofo o Alexandre ;3

Josi Novais disse...

Muito...

Unknown disse...

Apaixonei duas vezes agora pelo Alexandre

Josi Novais disse...

Por que Regina?
*-*

vi_meu_mundo disse...

Estou surpresa com a mudança do Alexandre. Diferença total. :O

Unknown disse...

Ai meu Deus. Alexandre lindo. Torcendo por ambos. Dois teimosos. Brigada esperando pelo próximo e torcendo pra que o final ainda esteja longe de acabar

Josi Novais disse...

Olha hoje não estou nos meus melhores dias, mas chegar aqui e ler comentários assim me faz ficar melhor...
O Alexandre é um fofo... um fofo gostosooo kkkk
Grazi estamos na reta final :(

Unknown disse...

Mas espero q venha outro conto. E uma delicia le-los.bjos.

vi_meu_mundo disse...

Concordo com a Graziela, é simplesmente fantástico. Dá prazer de le-los!

Josi Novais disse...

Ai gente obrigada ;)
Assim que terminar Rendida vou concluir Laçados pelo Amor e na sequencia um outro conto surgirá!

vi_meu_mundo disse...

Quando sai o Próximo capítulo

Josi Novais disse...

Acho que no FDS!

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