sábado, 21 de março de 2015

Série Rendida - Novais J.

Oi Gente, essa semana não apareci muito... rsrs
Mas tive um bom motivo! Rendida está em seus momentos finais e eu ando totalmente voltada para a obra, pois não quero atrasar com os episódios. Não esqueci de vocês não, tenho todas guardadas em um lugar super especial no meu coração... Amo vocês!
Ah e neste capítulo temos uma narração da Marta, ela é uma fofa neh gente?


O preço que se paga...
Dias como os de hoje deveriam ser transformados em feriado nacional, eu sentia o ar mais leve, a vida mais colorida e até ouvia os passarinhos cantarem com uma maior alegria.
Ok eu estava exagerando.
Mas convenhamos, à prisão da Rebeca não foi um acontecimento, foi O ACONTECIMENTO.
O mais legal era aquela sensação de paz e esperança. Paz porque finalmente não teríamos mais que aturar aquela dissimulada na empresa, já a esperança vinha da certeza de que agora eu e o Alexandre estávamos livres para retomar as nossas vidas, de preferência juntos.
Depois que a Cobreca foi levada pela viatura, Marta Dr. Tomas e eu entramos para dentro da empresa.
- É uma pena que eu tenha que trabalhar. – Marta comenta ainda tomada pela euforia. – O Sr. Alexandre deveria fechar a empresa, alugar um clube e fazer um super churrasco!
Dr. Tomas franze o cenho e eu dou uma cotovelada na Marta.
- É brincadeira. – ela levanta as mãos em rendição.
Reviro os olhos e fito o Dr. Tomas.
- Por que o senhor disse a Rebeca que ela já carregava crimes demais nas costas? – pergunto.
Ele pigarreia.
- Alexandre contratou um detetive particular para investigar a vida da Rebeca durante os anos em que ela ficou na Nova Zelândia, ele acabou descobrindo que ela estava sendo acusada de matar três homens com quem manteve relacionamentos.
- Ohh... – Marta e eu exclamamos em uníssono.
- Agora além de responder pelo assassinato do Marcos, Rebeca terá mais esses outros três para prestar contas. – Dr. Tomas continua.
- Mas por que ela os matou? – Marta indaga.
- Eu não sei de detalhes, mas Alexandre mencionou que ela sempre roubava uma pequena fortuna a cada homicídio.
- E pensar que essa louca estava convivendo conosco durante todo esse tempo. – Marta se irrita cruzando os braços.
- É horrível saber o quanto uma pessoa pode fazer por dinheiro. Mas agora tudo acabou. – digo aliviada.
Todos assentem.
- Bom eu acho que irei subir até o andar do Alexandre, para ver como ele está. – Dr. Tomas anuncia. – Você vem Fernanda?
Puta merda!
Eu queria muito vê-lo...
Marta me encara erguendo as sobrancelhas.
- Bom... eu acho que vou... – respondo um tanto sem graça.
- Então vamos todos. – Marta sorri, aperta o botão do elevador e as portas se abrem.
******
Quando chegamos ao andar do Alexandre demos de cara com ele. Sua expressão estava péssima e pela minha vasta experiência diria que estava muito puto com alguma coisa.
- Rebeca já foi levada pela polícia. – Dr. Tomas informa ao Alexandre enquanto saímos do elevador.
- Eu sei. – ele cerra o maxilar pousando os olhos verdes em mim. – A policia não conseguiu pegar o Murilo, ele fugiu, o delegado acaba de ligar para informar.
Minha alegria pela prisão da Cobreca é afetada.
Puta merda!
- E agora? A Fernanda vai ficar a mercê daquele doido? – Marta se desespera me enlaçando pela cintura.
Alexandre fecha as mãos em punho e fica vermelho de raiva.
- Ele vai ser pego! O delegado disse ter uma equipe em perseguição ao carro dele. – ele me fita e sua expressão se suaviza um pouco. – Ele não vai pegar você.
Mordo os lábios me derretendo pela forma como ele me olha.
- Eu sei que a polícia conseguirá pegá-lo. Tudo vai ficar bem. – o tranquilizo.
Fitamo-nos e um dos cantos de sua boca se curva em um pequeno sorriso. Sorrio também.
 No mínimo devo estar com uma cara mega boba agora.
Dr. Tomas pigarreia e paramos de nos encarar.
- Bom me mantenha informado Alexandre, eu vou estar na minha sala, qualquer coisa é só me ligar. – Dr. Tomas se vira pra mim. – Vamos?
Eu assinto e encaro a Marta.
- Marta eu vou voltar para o meu apartamento, quando sairmos da empresa pegarei minhas coisas na sua casa e...
- Você só pode estar brincando! – Alexandre me interrompe furioso.
Ergo as sobrancelhas.
- Alexandre não vejo necessidade de continuar incomodando a Marta. Você mesmo disse que o Murilo está sendo perseguido pela polícia e eu duvido que ele apareça no meu prédio.
- Fernanda enquanto o Murilo não estiver preso em uma cadeia de segurança máxima você não volta para aquele apartamento. – ele me fulmina com o olhar.
Abro a boca em O pela petulância dele e cruzo os braços.
- Eu devo te lembrar que você não manda em mim?
Sei que Alexandre estava preocupado e só queria me proteger, mas eu odiava quando ele acionava o modo mandão! Por que ele não diz: “Será que você pode ficar na casa da Marta?” ao invés de me dar ordens como se eu fosse uma criança? Ok, eu sabia a resposta, ele gostava de exigir, de ter domínio. Dificilmente se ouvia um “por favor” da boca dele.
- Você não vai voltar para aquele apartamento. – me enfrenta irritado.
Abro a boca para respondê-lo, mas Marta me interrompe.
- Sério que vocês vão brigar por causa disso? Pelo amor de Deus. – ela revira os olhos. – Nanda fica lá em casa até pegarem o Murilo. – ela determina e me fita docemente. – Você não incomoda em nada, estou amando te ter por perto.
- Eu não quero me meter, mas também acho melhor você não ficar sozinha Fernanda. – avalia Dr. Tomas.
Ótimo três contra um.
- Eu fico na casa da Marta. – cedo. Alexandre ergue uma sobrancelha e sorri cinicamente saboreando o gosto da vitoria, o que só contribui para me irritar mais. – Mas só por mais essa noite, amanhã, Murilo preso ou não, volto para a minha casa. – o desafio e ele cerra o maxilar. – Vamos Dr. Tomas?
- Pode ir Dr. Tomas. – ele diz olhando diretamente para mim. –  Fernanda vai ficar mais um pouquinho.
Congelo no meu lugar.
Aquele tom de voz significava apenas uma coisa:
Eu estava na merda.


Dr. Tomas anda até o elevador sem contestar, era sábio demais para se meter em uma briga que não era sua. Fernanda não escolheu um bom momento para me desafiar, eu estava há dias sem sexo, o que já contribui para aumentar o meu humor do cão, sem contar todo o estresse devido às armações da Rebeca e agora, para completar, a polícia deixa o Murilo escapar.
Caralho!
Encaro Marta na esperança de que ela se toque e entre no elevador com o Dr. Tomas.
- O que? – ela abre os braços. – Também vou ter que sair?!
Cerro os olhos para ela.
- Por que eu sempre perco as melhores partes?! – ela dramatiza entrando no elevador.
Quando as portas se fecham e ficamos somente eu e Fernanda cruzo os braços e a encaro.
- Está pra nascer mulher mais teimosa que você. Por que é tão difícil fazer o que eu quero? – pergunto me aproximando dela.
Seus olhos não desviam dos meus nem por um segundo.
- Ajudaria se você pedisse, por favor, de vez em quando. – ela retruca ríspida.
Queria poder ter controle sobre mim, mas não consigo impedir meu pau de endurecer quando passo os olhos pelo corpo dela. Por que ela tem que usar esses vestidos levemente acinturados na altura dos joelhos com decotes generosos que tiram a minha concentração?
- Eu não gosto quando você manda em mim. – Fernanda diz entredentes.
Minha boca se curva em um sorriso safado e eu espalmo minha mão na barriga dela empurrando-a contra a parede. Merda agora já era!
Meu pau está no controle...
- Então você não gosta que eu mande em você? – sussurro enquanto minhas mãos viajam livre por sua cintura. – Estou lembrando de algumas ordens que lhe dava e você não reclamava. Até gostava. – aproximo minha boca do seu pescoço e dou uma mordida forte na pele macia.
- Ah... – ela lamenta me puxando para que meu corpo cole ao dela.
Para com isso agora Alexandre!
Tento recobrar o controle, mas parece que estamos grudados com uma super cola.
Caralho! Estou tão duro... preciso transar com ela... Agora.
Mas eu não posso! Merda!
Minha testa encosta na dela e eu respiro fundo.
- Me prometa que ficará na casa da Marta até pegarem o Murilo. – murmuro.
A mão dela pousa em meu rosto numa caricia suave.
- Por que você não me leva para sua casa e me protege? – pergunta com olhos febris.
- Porque provavelmente eu te jogaria na minha cama e se isso acontecer, quem irá te proteger de mim? – respondo sem pensar.
Ela ergue as sobrancelhas e tenta conter um sorriso pra lá de satisfeito.
- Acho que não quero ser protegida de você.
O aperto de minhas mãos em sua cintura se torna mais forte.
- Eu sinto sua falta. – ela revela fazendo o meu coração acelerar. – Sinto demais.
Busco os olhos dela, uma de minhas mãos permanece em sua cintura enquanto a outra acaricia seus cabelos, seu rosto e contorna o desenho de sua boca.
- Eu te amo. – declaro apaixonado. – Amo tanto, mais tanto, que não acho justo tirar a sua chance de encontrar mais.  – dou um sorriso triste. – Olha pra mim Fernanda. Eu sou fodido, amargurado, marcado pela dor e sua vida comigo passará bem longe de um conto de fadas. É isso que você quer pra você?


A policia está no meu encalço, duas viaturas me perseguem, não posso deixá-los me pegar. Não quero passar o resto dos meus dias em uma penitenciaria dividindo uma cela fétida com mais vinte presos enquanto o meu meio-irmão desfruta do luxo que deveria ser meu. Desfruta da mulher que deveria ser minha!
Não! Não! Não!
Maldita Rebeca e sua burrice, eu a avisei que corríamos riscos! Agora ela está presa e isso automaticamente me pós na rota! Eu vou sair dessa, vou pegar a Fernanda e sumir no mundo... eu vou conseguir!
Entro na Avenida Paulista e acelero mais o carro enquanto ouço o som das sirenes atrás de mim, eles estão perto demais.
Tenho que atrasá-los!
Abro o porta-luvas e pego o meu revolver, tento controlar o volante com uma mão e com a outra dou alguns tiros pela janela contra as viaturas. Ouço gritos das pessoas e coloco a cabeça para fora da janela.
- Vão se foder bando de merdas! – brado para uma das viaturas.
De repente escuto um som alto de buzina, meu corpo fica em alerta. Viro-me para frente e arregalo os olhos, um ônibus na contramão vem em minha direção. Freio o carro tentando desviar da batida, mas a colisão é inevitável. Ela vem forte e implacável, meu carro é arrastado e o airbag é acionado protegendo minha cabeça e tórax do impacto contra o carro, fico tonto e o som constante de buzina continua, ouço também gritos, muitos gritos e um cheiro forte de gasolina.
Tento sair do carro, mas a porta do motorista está emperrada. Forço a do passageiro e consigo abri-la, mas antes que saia para fora daquele tormento o cheiro de gasolina se intensifica e o estrondo de uma explosão se faz ouvir. Meu corpo fica quente, estou em chamas... grito de dor... Não! Eu não quero morrer assim...
Mais uma explosão acontece e não consigo pensar em mais nada. A dor passa e eu mergulho em uma escuridão completa e assustadora.


Abro um sorriso largo após a pergunta dele. Alexandre não entende o motivo do meu sorriso, deve estar se perguntando se sou louca, mas sou sim, só que por ele.
Alexandre não acha justo tirar a minha chance de encontrar mais? Eu não preciso de chance alguma porque já encontrei. Eu não quero conto de fadas, prefiro uma vida real com todas as dificuldades ao lado dele. Ele é fodido, amargura, marcado pela dor, mas por trás de tudo isso bate um coração bom, protetor e integro. Um coração que me prendeu, um coração que eu queria muito que voltasse a bater bem juntinho do meu em um só ritmo como antes. Mordo os lábios e o fito pronta para dizer isso a ele, mas sou impedida pelo som do seu celular tocando. Solto uma respiração impaciente, odeio celulares! Já é a segunda vez que este aparelhinho do inferno interrompe um momento crucial.
Alexandre poe a mão no bolso e pega o celular.
- É o delegado Garcia. – ele diz fitando o celular, então me encara praticamente me pedindo autorização para atender. Eu assinto e ele atende. – Oi delegado. – Alexandre escuta alguma coisa que faz com que sua expressão se transforme de repente, fico em alerta. – Meu Deus... mas... mas como foi isso? – ele pergunta com a voz engasgada. – Tudo bem delegado, e-eu tomarei as providencias necessárias. – avisa depois de ouvir a resposta. – Eu vou desligar agora.
O celular dele cai no chão e eu o seguro pelos ombros muito preocupada.
- Pelo amor de Deus! O que aconteceu?!
Ele não responde, apenas me puxa para seus braços em um abraço apertado e eu deixo, permito que ele me transforme em seu porto-seguro. É assim que eu quero que ele me veja. É isso que eu quero ser pra ele durante toda a minha vida.
- Fala pra mim, o que o delegado disse? – peço baixinho afagando os cabelos dele com a minha mão.
- Ele... ele está morto.
Afasto-me um pouco para olhá-lo nos olhos.
- Quem está morto? – tento manter a calma.
Alexandre abre a boca algumas vezes, mas nenhuma palavra sai.
- Murilo. – por fim consegue falar.
- Oh... – coloca a mão na boca e pisco os olhos olhando para o nada. – Co-como?
- Durante a perseguição o carro dele bateu em um ônibus que vinha na contramão. Segundo testemunhas o ônibus estava sem freios e o motorista perdeu o controle jogando o veículo para o lado errado da avenida. – ele para um pouco para recuperar o fôlego e depois volta a falar. – O carro do Murilo foi arrastado por alguns metros e explodiu junto com o ônibus.
- Jesus...
- Os corpos estão carbonizados. – comenta transtornado.
- Corpos? – me espanto.
- No ônibus além do motorista tinha alguns passageiros. – explica tristemente. – Ninguém sobreviveu.
Controlo um soluço com a mão, mas infelizmente o choro cai sem que eu possa impedir. Meu Deus! Quantas pessoas inocentes pagaram pelos erros do Murilo? Por quê? Isso não é justo...
Sei que não deveria, mas me sinto culpada. Encaro o Alexandre e pela sua expressão sei que ele também sente o mesmo que eu. Então eu choro mais, só que dessa vez por ele.
Quantos fados pesados este homem ainda terá que carregar?
- Vem... – ele me puxa suave para o meu lugar preferido em todo o mundo: os seus braços. Alexandre descansa o queixo em minha cabeça e afaga as minhas costas com uma extrema delicadeza que é quase impossível sentir o seu toque.


A notícia da morte trágica do Murilo abalou a todos.  Vidas humanas foram perdidas naquele acidente. A notícia logo se popularizou, jornais noticiaram sete vítimas no tatal: Murilo, o motorista do ônibus e mais cinco passageiros.
É obvio que não demorou para que toda aquela história asquerosa caísse nas garras da imprensa marrom. O passado do Sr. Alexandre, o assassinato do Marcos e a prisão da Rebeca viraram manchetes em questão de horas.
Nanda e eu estávamos deitadas na cama do quarto de hospedes da minha casa assistindo a um dos noticiários, no fim da tarde o Sr. Alexandre havia convocado a imprensa para uma declaração, declaração está que os jornais não paravam de reprisar, os repórteres pareciam abutres ao redor dele.
A câmera focalizava o rosto do Sr. Alexandre e jornalistas colocaram microfones diante dele fazendo várias perguntas.
- O que o senhor tem a dizer sobre os escândalos desta tarde? Acha que a sua empresa perderá muitos contratos por ter como acionista uma assassina?
- Qual foi a sua reação quando descobriu que sua esposa tinha um caso com o seu irmão? Então foi este o verdadeiro motivo da transferência das Organizações Mcconaughey para São Paulo?
- Você está muito abalado pela morte do seu irmão naquele trágico acidente?
Fernanda se encolheu na cama com os joelhos dobrados, passei meu braço em seu ombro e ouvimos a resposta do Sr Alexandre.
- As Organizações Mcconaughey não têm absolutamente nada a ver com nenhum dos escândalos que a imprensa está noticiando. Rebeca é nossa ex-acionista, o vínculo dela com a empresa foi quebrado após sua prisão. O motivo da transferência das Organizações Mcconaughey para São Paulo, assim como a minha vida pessoal, não são da conta de vocês. Sinto muito pela morte do Murilo e pela das pessoas que estavam naquele ônibus. Estou muito triste pelas circunstancias. Agora se vocês me dão licença, tenho alguns assuntos para resolver.
Pego o controle e desligo a TV.
- É por isso que odeio a imprensa! Eles são frios, não ligam para o sentimento das pessoas. – me exalto indignada.
- Coitado Marta, ele está sendo massacrado. – Nanda lamenta.
- Ele sabe como lidar com esse tipo de gente, a empresa e o próprio Sr. Alexandre tem muita credibilidade. Nada respingará nele. – me ajeito melhor na cama ficando de frente para ela. – Como será que ele está, tipo de verdade?
- Ah Marta... ele está péssimo. Foi uma tragédia e apesar de tudo que o Murilo fez tenho certeza que o Alexandre não iria querer esse final. Poxa eles são irmãos, mesmo que só por parte de mãe.
Ficamos em silêncio e ela volta a falar.
- Não consigo parar de pensar nas pessoas que estavam naquele ônibus. – ela fecha os olhos e começa a chorar.
- Ei para com isso! – a repreendo. – Você não tem culpa, muito menos o Sr. Alexandre.
- Foram vidas Marta... vidas perdidas...
- Nanda foi uma fatalidade, o jornal noticiou que o ônibus estava sem freios quando bateu no carro do Murilo durante a perseguição.
- Eu sei. – ela responde baixinho. – Eu só queria que... que as coisas fossem diferentes.
- Ninguém sabe por que essas coisas ocorrem... sei lá elas só acontecem. Acho que faz parte da vida. – dou de ombros. – Faz parte das escolhas que fazemos.
Ela assente mais calma.
- Nanda, o enterro do Marcos é amanhã pela manhã. Como ele não tinha familiares próximos o primo dele resolveu enterrá-lo aqui mesmo. Você vai?
- Vou. Podíamos comprar umas flores antes de ir. – ela sugere.
Dou um sorriso.
- Claro.
O celular dela toca chamando nossa atenção, ela o pega e faz uma careta engraçada.
- É a minha mãe, deve ter visto os noticiários... Puta merda ela nem sabia que o Alexandre tinha uma ex-esposa.
Levanto-me da cama e a fito.
- É melhor atender e acalmá-la.
Saio do quarto para lhe dar privacidade.


Começo a soar frio assim que atendo ao celular, o coloco no ouvido já prevendo o escândalo que mamãe fará.
- Oi mã...
- Filha ingrata! – ela diz me interrompendo. – Como pode esconder de mim e do seu pai coisas tão importantes?!
Coloco a mão na cabeça e suspiro pesado.
- Mãe me deixa explicar...
- Agora não precisa! A moça que apresenta o jornal já explicou para o Brasil inteiro!
Reviro os olhos.
- Mamãe eu ia contar, é só que... quando visitamos vocês estávamos no inicio do namoro e achei melhor esperar mais um pouco. Eu só não imaginava que tudo isso fosse acontecer. – tento fazê-la entender.
- Coitado do meu genro, uma ex-mulher assassina e um irmão doido... Como o Alexandre está filha?
Eu não acredito que ela me ligou só para perguntar dele. Esqueci que a minha mãe é fã número um do Alexandre.
- Ele está abalado, triste, mas vai ficar bem... – respondo.
- Ainda bem que aquela ex dele está presa, caso contrário eu mesma a botaria em uma camisa de força e a jogaria em um mar! Só de pensar no perigo que minha filhotinha estava correndo com essa louca a solta...
Não consigo não rir.
- Mãe eu estou bem, não se preocupe.
- E você e o Alexandre? Também estão bem? Ele está aí com você? Posso falar com ele?
Fico em silêncio por um tempo. Puta que pariu! Se eu falar para a mamãe que não estamos juntos ela cairá dura no chão, mas também não quero mentir... o que eu faço?!
- Ah... nós estamos... bem. – falo na corda bamba. – E ele não está comigo, eu estou na casa de uma amiga.
- Que pena filha, fala para ele que sinto muito por tudo. E que eu e o seu pai o amamos como a um filho, ele já faz parte da nossa família.
Fico emocionada.
- Eu falo sim mãe... e o papai? Como ele está?
- Dormindo. Ele não sabe de nada, contarei amanhã com calma. Não quero assustá-lo por causa do infarto.
- Eu sei... é melhor assim.
- Nanda agora vou desligar, só liguei mesmo para lhe dar uma bronca, saber como você está e lembrá-la que ainda tem mãe, ah e para falar com o Alexandre... Mas não pense que não iremos ter uma conversa séria depois! Filha você viu a entrevista que o Alexandre deu? Que genro mais lindo você foi me arrumar!
Caio na risada.
- Mãe para com isso!
- Meus netos serão lindos. Imagina um garotinho com a cara dele? – ela diz sonhadora me fazendo parar de rir.
Estava aí mais uma coisa que eu teria que conversar com ela, mas não seria agora. Teria que ser pessoalmente.
- Mãe mande um beijo para o papai. Amo vocês. – mudo de assunto.
- Também te amo meu bem. Boa noite. – ela diz antes de desligar.


Após o banho deitei na cama apenas de boxer. Eu estava cansado, mas não conseguia dormir. Imagens da minha infância com o Murilo não paravam de rondar a minha cabeça. Era para termos sido parceiros, amigos, família.
Agora ele estava... morto.
Ainda não consigo digerir isso. Não vou negar que chorei durante o banho. Houve um tempo em que o amei muito, mas depois só consegui odiá-lo. Agora... agora eu não sei mais o que sinto. Será que eu deveria tê-lo procurado nos últimos dez anos? E se eu tivesse procurado, teria feito alguma diferença? O destino dele poderia ser diferente?
Tantas perguntas sem respostas...
Darei ao Murilo um enterro decente, assim que o IML liberar o corpo eu o levarei para o Rio de Janeiro e o enterrarei ao lado da nossa mãe. Era o que ela iria querer.
Mas por que ele me odiava tanto? O que eu havia feito de tão ruim a ele? Será que ele nunca me amou como irmão? Será que ele se arrependeu de algo que fez? Será sentiu a minha falta no tempo que ficamos longe?
Ele era meu único parente vivo, agora eu estava sozinho no mundo. Embora já me sentisse assim antes.
Eu não queria ficar sozinho.


Todos ouviam com atenção as palavras do padre, me surpreendi com a quantidade de pessoas da empresa que vieram ao enterro do Marcos. O caixão estava fechado, não havia a menor possibilidade de ser aberto devido ao estado do corpo. Marta e eu vestíamos vestidos pretos, estávamos lado a lado segurando cada uma um ramalhete de flores. Alexandre havia chegado a pouco acompanhado do Dr. Tomas e da Alicia, eu não conseguia parar de olhá-lo, vestido em um terno azul escuro ele estava simplesmente lindo.
Quando o caixão foi colocado na vala e os coveiros jogaram terra por cima, o padre disse suas ultimas palavras:
- Da mesma forma como somos viajantes aqueles que convivem conosco também o são. Quando alguém parte antes de nós não devemos nos entregar a tristeza profunda porque os mortos descansam e nada sentem. Eles dormem e estão esperando o dia da ressurreição do Senhor. A mesma coisa acontecerá conosco. Nós também dormiremos. Que o nosso irmão Marcos encontre a paz eterna, que os seus pecados sejam perdoados por Deus e por aqueles que ele afligiu. Irmãos e irmãs se perdoamos somos perdoados, o perdão é libertador e a falta dele é como uma pedra amarrada na perna de alguém, que a arrasta para o fundo do mar. Que Deus vos abençoe.
- Amém. – dissemos.
Marta e eu nos aproximamos do primo do Marcos para dar os pêsames, as pessoas já começavam a se retirar do cemitério. Quando o trabalho dos coveiros foi concluído poucas pessoas restavam ali. Marta colocou suas flores na sepultura e me fitou.
- Odeio enterros. – suspirou. – Vamos?
- Você me espera no carro? Eu gostaria de fazer uma oração antes de ir.
Ela dá um sorriso e assente me deixando sozinha. Rezo um Pai Nosso e três Avemarias pela alma do Marcos, quando termino sinto o cheiro inconfundível do Alexandre, sei que Le está atrás de mim. Viro-me e o encaro.
- Oi. – dou um sorriso tímido.
Ele tem a expressão séria e olha para a sepultura do Marcos.
- No final do vídeo que o Marcos me mandou ele pedia perdão a você pelas coisas que ele fez.
Franzo o cenho.
- Eu não ouvi essa parte quando você mostrou o vídeo para a Rebeca.
Ele me fita surpreso.
- Você estava na sala do Dr. Tomas?
- É eu estava... vi e ouvir tudo. – afirmo e ele fica um pouco desconfortável.
- Bem eu cortei algumas partes do vídeo, só deixei as que interessavam ao meu plano. – ele explica. – Por isso você não escutou o pedido de perdão.
Eu me abaixo colocando o meu ramalhete na sepultura do Marcos e depois me ergo ficando de frente para ele.
- Sabe, eu o perdoo. Apesar de não ter sido com a melhores das intenções, Marcos fez aquele vídeo e esclareceu tudo para você. Se isso não tivesse acontecido nem sei qual seria o desfecho desta história. E é como o padre disse, devemos perdoar para sermos perdoados. E o pior é que na maioria das vezes só entendemos a importância disso quando precisamos do perdão de alguém. – dou a ele um olhar significativo.
Alexandre me encara sério e entende que eu estava me referindo aquela coisa horrível que havia dito a ele, sobre o fato dele não poder me dar filhos, ele ergue a mão e toca a minha face.
- Eu já te perdoei. – diz com a voz suave me fazendo sorrir como a muito tempo eu não sorria.
- A minha mãe me ligou ontem. – torço as mãos um pouco nervosa, ele continua a acariciar o meu rosto. – Ela soube de tudo pelos noticiários, me pediu para dizer que sente muito e que ela e papai te amam como a um filho.
Ele sorri de um jeito tímido, um golpe certeiro no meu coração.
- Obrigado. Eu gosto muito dos seus pais, eles são... maravilhosos.
- É eles são. – aquiesço o olhando muito boba.
- Eles sabem que não estamos mais juntos? – pergunta e eu fico sem graça.
- Não... ainda não contei.
- Por quê?
Penso um pouco antes de responder.
- Porque eu acho que precisamos conversar direito sobre isso. – sinto que ele fica perturbado.
- Nós já conversamos.
- Não. – contraponho. – Você tomou uma decisão, isso não é conversar.
Ele desvia os olhos dos meus.
- Eu vou estar te esperando hoje à noite na minha casa. – aviso. – Agora que tudo acabou não há mais porque eu continuar na casa da Marta.
- Eu viajo hoje à noite para o Rio de Janeiro. – ele fala acabando com os meus planos.
- Viaja? Como assim?
- Eu vou levar o corpo do Murilo para lá, quero enterrá-lo ao lado da nossa mãe. O IML deve liberar o corpo hoje à tarde.
- Quando você volta?
- Na segunda.
- Eu espero. – sussurro.
- Alexandre, papai está te esperando para irmos. – Alice chega se juntando a nós. – Interrompi alguma coisa? – pergunta percebendo o clima.
Mordo os lábios louca para dizer um SIM bem grande e redondo, mas me controlo.
- Eu só estava dizendo a Fernanda que viajo hoje à noite para o Rio. – Alexandre diz olhando para mim.
- Ah claro o enterro do Murilo. Tem certeza que não quer que eu vá com você? – Alice coloca a mão no braço dele.
Abro a boca em O. Eu não acredito que ela já tinha se oferecido para ir!
Alexandre me olha cauteloso.
- Não Alice eu quero ir sozinho.
- Bom se mudar de ideia... Eu estarei aqui.
- Eu não vou mudar. – ele é taxativo.
- É eu vou indo. – os interrompo me corroendo de ciúmes. – A Marta está me esperando no carro. – falo irritada.
- Também já vamos. – Alexandre diz e caminhamos os três para fora do cemitério.


Do lado de fora do cemitério deixo Alicia com o Dr. Tomas dentro do meu carro e acompanho Fernanda até o carro da Marta.
- A Alicia é tão... amiga. – ela diz aquilo com uma ponta de sarcasmo.
Dou um sorriso porque sei que ela está com ciúmes.
- Ela é uma pessoa legal.
- Ela gosta de você. – Fernanda afirma um pouco irritada.
- Você está com ciúmes da Alicia? – pergunto contendo um sorriso zombeteiro.
Ela para de andar e coloca as mãos na cintura.
- Eu? É claro que não. – diz ofendida. – Onde já se viu?
- Está na sua cara. – provoco.
Ela ri sarcástica e volta a andar.
- Você é um babaca.
- E você ciumenta. – retruco acompanhando seus passos.
Ela bufa e eu dou um sorriso torto.


Alexandre abre a porta do carro da Marta para mim e eu afundo do banco mal olhando na cara dele, ele fecha a porta e se apóia na janela cumprimentando a Marta. Assim que vai embora, Marta liga o carro o colocando em movimento.
Durante o caminho ela meio que me olha de soslaio.
- Já brigaram não é?
Cruzo os braços fazendo beicinho.
- Você acredita que ele disse que eu tenho ciúmes da Alicia!
- Querida e ele disse alguma mentira?
Cerro os olhos para ela.
- Alexandre viaja hoje a noite para o Rio, ele quer enterrar o corpo do Murilo ao lado da mãe e você acredita que a Alicia se ofereceu para ir com ele?! – falo indignada.
- E ele?
- Ele não seria louco de aceitar. – respondo P da vida.
Marta cai na risada.
- Quando ele volta?
- Segunda. – respondo mais calma. – Eu quero muito conversar com ele. Não aguento mais essa situação.
Marta fica séria de repente.
- Nanda você já pensou que ele pode estar certo?
- Como assim? – pergunto confusa.
- Que vocês querem tipos de relacionamentos diferentes. Você quer uma família no futuro. Ele só quer você.
Mordo o meu dedo e olho pela janela.
- Eu queria uma família com ele, mas se não é o que o Alexandre quer o que eu posso fazer? Marta eu só tenho duas opções: Ficar sozinha e infeliz pelo resto da vida porque o homem que eu amo não quer ter filhos ou ficar com ele e ser feliz.
Ela pega minha mão que repousava em meu colo.
- Sabe Nanda, um filho não vem para completar felicidade de casal nenhum, é uma responsabilidade muito grande para uma criança. Um filho vem para adicionar, trazer uma nova riqueza. Então eu acredito que vocês dois, mesmo sem filhos possam sim ser tão felizes quanto um casal que tem. Você só precisa convencê-lo disso.
- Só não sei como... na verdade eu sei! – falo de repente. – Só que acho muita loucura.
- Faz assim, você me conta. – ela pondera. – Se for muita, mais muita loucura eu te falo para desistir e pensar em outra coisa.
Me animo.
- Eu precisaria da sua ajuda.
- Você já sabe que já a tem.
- Tudo ocorreria na segunda quando ele voltasse do Rio. Seria na empresa. Na sala dele, onde tudo entre a gente começou e seria a noite!
Ela me olha eufórica e freia o carro bruscamente nos fazendo ir para frente e depois para trás.
Marta no volante, perigo constante.
- Nanda já gostei disso! Agora me conta logo ou eu vou por um ovo azul!
Caio na gargalhada e ela também.
Respiro fundo criando coragem.
- Prometa que não vai rir. – peço.
Ela cruza os dedos e os beija em juramento.
- Prometo tudo o que você quiser, agora desembucha. 


6 comentários:

Unknown disse...

Meu Jesus q capitulo. Aguardando anciosA pelo próximo. E triste pq não vai mas ter a Fernanda e o Alexandre bjos...

Unknown disse...

Amei ansiosa pelo próximo capítulo. ..

vi_meu_mundo disse...

Gostei destes capítulo. Só que fiquei triste pela morte do Murilo ;( e o sofrimento do Alexandre.

vi_meu_mundo disse...

Vai ser engraçado relembrar onde tudo começou, só que com a Fernanda no poder kk

Josi Novais disse...

Gente só queria dizer que é muito bom escrever para pessoas como vocês... Cara as vezes me perguntam de onde minha inspiração vem e hoje eu sei a resposta. Vem de vocês... Essa explosão de sentimentos que Rendida causa só me traz mais vontade e ideias.
Amo muito tudo isso!

Tamires Espicalquis disse...

Olá galera. Para quem curte literatura erótica e os livros da Sylvya Day, estou vendendo quatro livros da Série Crossfire, seminovos. Quem se interessar, me procure no Facebook Tamires Espicalquis, ou no meu e-mail tamiresespicalquis@gmail.com ou no meu twitter @tamespicalquis. Obrigada. Beijos

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