quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Série Rendida - Novais J

POSTAGEM DE Nº 200 DO NOSSO BLOG!
É UMA DELÍCIA TER VOCÊS POR AQUI... 


Coisas Delicadas

Estava me sentindo meio bobo.
Não. Naquele momento eu era um bobo completo.
Sentado na cama eu velava o sono dela como um guarda costas, acompanhava sua suave respiração e admirava a serenidade da sua face. Fernanda tinha uma das mãos recostada no travesseiro e a outra pousada em sua barriga.
Ela parecia um anjo.
Sim, ela era o anjo que bravamente atravessou minhas barreiras e trouxe luz à escuridão onde eu me encontrava.
 Tem que ter coragem para admitir medo e eu estou com muito. A determinação dela me assusta e o que ela provoca em mim me apavora, mas quando olho em seus olhos me sinto forte, capaz. É como se eles me dessem a garantia de que ela não irá me rasgar por dentro como já aconteceu uma vez.


Abri o maior bocão e me espreguicei na cama. Meus cabelos caíram no meu rosto impedindo-me de ver o que estava a minha frente. Vou chegar atrasada no trabalho, nem ouvi o despertador tocar.
Sentei-me na cama em transe e tirei aos poucos a minha juba de leão da cara. Pisquei os olhos para me acostumar com a claridade e...
Puta que pariu!
Estaquei ao dar de cara com um deus caído do monte Olimpo encostado em uma das paredes do quarto, sem camisa e com a calça do pijama perigosamente baixa.
Uma retrospectiva dos últimos acontecimentos veio como uma martelada na minha cabeça: a festa, a Cobreca (junção de cobra + Rebeca), a merda que o Marcos fez, a briga, o Alexandre me levando para sua casa, a nossa discussão, as coisas que ele me disse, o nosso beijo...
- Bom dia. – ele se aproxima e senta na cama.
- Bom dia. Que horas são?
- Nove.
Passei as mãos rapidamente pelo cabelo tentado ficar apresentável e o encarei.
- Nossa acho que dormir demais.
Ele sorriu e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
- Relaxa a empresa só vai abrir à tarde.
- Eu tinha esquecido. Para mim eu estava na minha casa, deitada na minha cama. – gargalhei, mas parei assim que percebi que ele me olhava de um jeito intenso. – O que foi?
- Você é linda quando acorda.
Franzi o cenho.
- Ah para Alexandre! Nenhuma mulher é bonita quando acorda. – tentei me levantar e fugir do seu olhar, mas ele me impediu.
- Você é uma exceção.
Tento não suspirar com o que ele disse. Limito-me a apenas olhá-lo com cara de bocó. Ele aproxima o rosto do meu e desce o olhar para a minha boca.
Oh Deus ele vai me beijar! Me beija, me beija, me beija!
Meu coração se agita mais que trio elétrico e eu fecho os olhos esperando o contato. E ele vem, mas não onde eu gostaria.
Alexandre dá um beijo demorado na minha testa!
Abro os olhos e o encaro de mau humor.
- Você deve estar com fome, pedi a Isabel, minha empregada, para preparar um café da manhã para nós. – ele diz.
Dou um sorriso amarelo.
- Estou sim. Só preciso ir ao banheiro primeiro. – ele assente e eu me levanto entrando no banheiro. Em seguida abro a porta colocando apenas a cabeça para fora, Alexandre me dá total atenção. – Posso escovar os dentes com a sua escova?
- Pode. – responde colocando um sorriso safado na boca.


Tomamos café da manhã no terraço da minha cobertura, continuei apenas com a calça do pijama e Fernanda com a minha camisa, não deixei que trocasse de roupa. Ela ficava bem demais vestindo as minhas roupas.
A mesa estava um verdadeiro banquete, frutas, bolos, pães, sucos, leite e café. Comemos em silêncio, Fernanda devorava tudo em questão de segundos parando apenas para dizer “isso aqui está muito bom”. Ela repetiu essa frase umas trinta vezes. Esperei ela comer mais um pouco e enfim quebrei o silêncio fazendo a pergunta que martelava na minha cabeça desde ontem à noite.
- O que foi fazer naquele estacionamento sozinha Fernanda?



Parei de mastigar a maçã e o encarei. Esse era o momento em que eu deveria falar do meu encontro com a Rebeca e das coisas que ela me disse, mas eu não queria parecer insegura, não queria que ele me enxergasse como uma tola.
A Rebeca me envenenou e eu caí como uma pata. Deixei que as coisas que ela me disse atormentassem a minha cabeça me levando a nem sequer raciocinar.
Se eu ainda tinha esperanças de ter alguma coisa com aquele homem teria que ter um pouco de fé nele.
Optei por uma meia verdade.
- Quis sair sem que você me visse, eu iria pegar um taxi. – respondi culpada.
Alexandre cerrou o maxilar.
- Por quê?
- Porque eu estava confusa em relação a nós dois, achei melhor conversarmos em outra hora.
- E o tal do Marcos? Será que eu posso saber o que está acontecendo entre vocês dois? – pergunta bruscamente.
Eu contei tudo, relatei toda a história, desde a primeira vez que ele me agarrou até o que ocorreu ontem à noite. Ao final do meu relato Alexandre esmurrou a mesa fazendo os pratos e talheres balançarem. Ele se levantou com uma expressão furiosa e começou a andar de um lado pro outro como uma fera enjaulada.
- Por que você não me contou? – perguntou parando para me encarar.
- Eu não tinha razões para te contar. Quando você entrou no meu apartamento aquele dia e terminou tudo eu achei que o que acontecesse comigo a parti dali não importaria mais pra você.
Ele me fulmina com o olhar.
Puta merda agora ele está realmente furioso!
- Nossa é incrível como você usa isso como desculpa pra tudo! – ele explode.
Como é que é? Agora eu era a vilã do filme?! Essa é boa.
Eu me levantei de supetão deixando a cadeira cair para trás, caminhei até ele a passos duros e enfiei o dedo no peito dele.
- Você queria o que Sr. Alexandre?! Depois de me dar um pé na bunda e rebaixar o que tínhamos a apenas sexo você esperava que eu procurasse você para falar que estavam me assediando no trabalho? Como você é idiota!
- Eu sou idiota?! – sorriu cínico. – Não sou eu que tento resolver problemas graves sozinho, sem a ajuda de ninguém! Não queria me contar, tudo bem, por que não falou com o Dr. Tomás então?!
- Olha, sabe o que eu acho? Nós dois juntos nunca vai dar certo. Nem voltamos e já estamos brigando! – falei sarcástica. – Eu vou trocar de roupa e vou embora.


Fiquei imóvel vendo ela se afastar. Fernanda passou por mim com uma expressão chateada e antes que desse mais algum passo segurei em seu braço.
- Ei não vai embora... Ainda nem conversei o que eu queria com você.
- Nunca imaginei que o Marcos faria aquilo. – ela fala angustiada.
Levo a mão até seu rosto e o acaricio.
- Esquece esse assunto, não precisa se preocupar. De agora em diante esse é um assunto meu.
Fernanda me olha desconfiada.
- O que você vai fazer?
- Esquece esse assunto e confie em mim.
Dou um sorriso que chega até seus olhos e sua expressão se suaviza um pouco. Volto para a cadeira em que estava sentando e a puxo trazendo comigo, seu corpo aterrissa em meu colo e eu a fito.
- Quero falar sobre nós dois. Fernanda eu sei que acabei com o que tínhamos, que te disse um monte de merda, que te magoei, mas acredite eu estou arrependido. Se eu pudesse voltar no tempo não teria feito o que eu fiz... Eu quero você, você me quer, fim da história. Vamos voltar a ser o que éramos?
Olho fundo em seus olhos e eles parecem decepcionados.
O que eu falei de errado?
- E então? Você não vai falar nada? – insisto dando um sorriso encorajador.
- Não é isso que eu quero. – responde me deixando confuso.
- Não? Então o que você quer?
Ela sorri triste e abaixa a cabeça.
- Um relacionamento de verdade.
O pânico toma conta do meu corpo e a sensação é que levei um soco no estomago, antes que eu diga alguma coisa ela levanta a cabeça e busca os meus olhos.
- Meu Deus! Você precisa ver a sua cara, parece até que te pedi para pular de uma ponte. – ri com falso humor. – Eu sei que não é isso que você quer, mas é o que eu quero e eu quero com você. Estou cansada de sufocar o que eu sinto, de não falar o que eu penso por medo de você se sentir pressionado. Eu quero poder ter a liberdade de dizer que eu... – ela para e me dá um olhar culpado.
 – Eu amo você Alexandre.


Ai meu Deus, não acredito que eu disse.
Sim. Eu disse com todas as vogais e consoantes a frase que nunca ousei dizer a ninguém. Ele me olha horrorizado e um mar de emoções o atravessa. Alexandre fecha os olhos e passa a mão pelos cabelos nervosamente.
Eu não devia ter dito. Lágrimas começam a cair do meu rosto. Estou com medo.
E se ele me humilhar ou rir de mim? Eu não vou superar isso.
Saio do seu colo e ele não faz nada para me impedir. Limpo com o braço as lágrimas e ando em direção a porta que leva a sala. Subo correndo as escadas e entro no quarto dele fechando a porta atrás de mim. Sento na cama e fico perdida em pensamentos, tenho que me vestir e ir embora, mas simplesmente não consigo me mover.
Meu peito dói e as lágrimas voltam.
De alguma forma me sinto aliviada, pelo menos agora ele sabe. Não preciso mais guardar esse sentimento comigo, reparti com o Alexandre, mesmo que ele não queira ser amado por mim.
Porra isso dói!
Eu esperava o que? Que ele fosse me sufocar em um abraço e dizer que também me amava?
Sim era isso que eu esperava. Sonhar é de graça mesmo!
A porta do quarto se abre e eu me levanto da cama em um pulo. Alexandre entra e fecha a porta.
 Sua expressão é indecifrável.
Puta que pariu eu não sei o que dizer.
Ele anda até mim e para quando nossos pés se tocam.
- Eu não entendo.
- O que você não entende?
- Como você pode amar alguém como eu.
Eu franzo a testa olhando para ele, meus olhos voltam a se encher de lágrimas só que agora pelo que ele disse.
- O que não entendo é como pode desistir de si mesmo. Você se afundou tanto na própria dor que não consegue mais enxergar a pessoa maravilhosa que é. Não é porque não deu certo uma vez que isso se repetirá em seus próximos relacionamentos. Não é porque você não acredita mais no amor que as outras pessoas também não devem acreditar. – dou um sorriso triste, parando um pouco para respirar e depois continuo. – Eu quero brigar pela toalha molhada em cima da cama, pela tampa da privada levantada, pelo controle da televisão, quero ter um porto seguro, um ombro onde eu possa encostar a cabeça e chorar de vez em quando, alguém para me abraçar nas noites chuvosas, alguém para chamar de meu.
Ele me olha parecendo analisar as minhas palavras, depois coça a barba e coloca um sorriso sacana na boca.
Ele está rindo de mim?
- Você não tem ideia em que está se metendo Fernanda.
De repente me agarra e me empurra contra a parede do quarto.
Puta que pariu!
Ele pega o meu rosto com ambas as mãos e me beija com violência. Chupa minha língua e eu gemo cravando as unhas em suas costas largas. Seu beijo é molhado, urgente e devorador me levando a loucura e encharcando o meio de minhas pernas. Quando o beijo acaba estamos ambos ofegantes.
Ele me fita febril e minhas pernas fraquejam.
- Eu preciso de um tempo para pensar no que você disse, tenho que resolver algumas coisas comigo mesmo. Eu quero te dar o mundo. Eu quero ser seu.
Dou um sorriso de orelha a orelha.
- Você quer dizer que...
- Que quando eu te beijar de novo será para... sempre.


Depois de almoçarmos juntos na minha cobertura deixei Fernanda no prédio dela e vim direto para a empresa. Ficar um tempo sozinho me faria bem, Fernanda me deu muitos motivos para pensar e pela primeira vez em dez anos eu sinto que preciso avaliar minhas ações. Sinto que tomei decisões erradas e fui fraco.
Vagarosamente e disfarçadamente Fernanda foi me modificando e de repente pensar em um relacionamento sério não parece tão desesperador como antes.
Estou me rendendo as suas vontades, encantos, carinhos e sinceridade.
Eu amo você Alexandre.
Sinceridade...
A sinceridade com que ela disse aquela frase deixou o meu coração alegre e perturbado, o que eu fiz para ela se apaixonar?
Fiz burradas, dei mancadas.
Pode alguém amar o imperfeito? Os defeitos, as cicatrizes e as manchas?
Alguém especial pode.
******

Entrei no meu escritório e estaquei assim que vi Rebeca sentada confortavelmente em uma das cadeiras.
- Acho incrível a sua capacidade de entrar em lugares proibidos. – comentei com ceticismo.
- Sua secretária ainda não chegou então achei que poderia te esperar aqui dentro Baby.
- E os seguranças? Como passou por eles?
- Eles também não haviam chegado quando entrei. – sorriu sensual.
Suspirei me dirigindo até a minha cadeira e sentando de frente para ela.
- Devido ao meu bom humor irei deixar você sair daqui com as próprias pernas e não arrastada pelos seguranças.
Rebeca levanta, anda sensualmente até mim e se apóia na mesa.
- Devo agradecer a sua ex-secretária por esse raro bom humor?
- Sai da minha sala. – digo entre dentes.
Ela ri.
- Ela não pode ser melhor do que eu. – Rebeca levanta a barra do vestido e passa a mão por sua perna. – Lembra como éramos juntos Baby?
Sinto meu estômago se revirar e me levanto da cadeira já perdendo a paciência.
- Vou te pedir para sair pela última vez!
- O que você viu naquela... mulherzinha?! – eleva o tom de voz e se aproxima de mim. – Pelo amor de Deus Alexandre! Uma qualquer que você come depois do expediente!
- Cala a porra dessa boca! Você não tem moral pra falar dela, você não tem moral para falar de ninguém. Fernanda é muito mais mulher do que você um dia poderá sonhar em ser, ela é... boa, ela tem sonhos... os mesmos sonhos que um dia eu já tive! – grito com ferocidade.
Ela me olha surpresa e seus olhos se enchem de lágrimas.
- Eu vou tirá-la do meu caminho. Ela não vai te roubar de mim!
A simples ameaça a Fernanda me tira do sério, meu sangue esquenta e quando vejo já estou segurando firme no braço da Rebeca.
- Se você tocar em um fio de cabelo dela eu acabo com você. – esbravejo com fúria a soltando bruscamente.
Ela cambaleia para trás e me fuzila com o olhar, seu rosto é uma máscara de pura raiva.
- Então é pior do que eu pensava... Não é somente algumas fodas não é? Você está apaixonado por ela! – ri sem humor. – Ah, mas é claro que está! Eu vi vocês dois dançando, vi o jeito que você olhava pra ela... O mesmo jeito que um dia você olhou pra mim.
As palavras da Rebeca me atingem como uma bala, até então eu estava evitando ao máximo pensar no que eu sentia pela Fernanda. Caralho! Será que ela está certa?! Estou mesmo apaixonado?!
- Você não vai ficar com ela. – se humilha.
Dou um sorriso sarcástico.
- Eu vou. E não tem nada que você, nem que ninguém possa fazer. Sabe por quê? – me aproximo e a encaro. – Não há uma só parte de mim que hoje não pertença a ela.
Rebeca arregala os olhos e mais lágrimas caem.
- Agora sai daqui. – caminho até a porta e a abro.
Ela limpa as lágrimas e passa por mim, mas antes que esteja completamente fora da minha sala para e me fita de um jeito que provoca arrepios na minha espinha.
- Você vai se arrepender disso Baby. Se você não for meu, não será de mais ninguém.
Empurro-a pra fora e bato a porta com força. Caminho até a minha cadeira e sento recostando a cabeça no encosto.
Um sorriso se forma em meus lábios.
Cacete!
Eu estava apaixonado pela Fernanda!


Enquanto andava pelo saguão da empresa tive a leve impressão que algumas pessoas cochichavam olhando para mim. Das duas uma: ou eu estava imaginando coisas ou o meu nome circulava na boca do povão.
- FERNANDA!
Virei assustada a tempo de ver uma Marta correr na minha direção desesperada.
- Marta o que foi? Está acontecendo o apocalipse lá fora e eu não fui informada?! – questiono colocando as mãos na cintura.
- Ha-ha-há muito engraçado! – responde sarcástica. – Preciso falar com você. – ela me puxa pela mão me arrastando até o refeitório.
- Marta agora não dá! Eu tenho que trabalhar!
- Depois querida. Depois.
******
- Diz logo o que é tão importante. – solto um suspiro cansado enquanto sento na cadeira.
Ela puxa outra cadeira e senta a minha frente.
- Eu pensei que fossemos amigas. – diz chateada.
Franzo o cenho.
- Eu não estou entendendo...
- Quem não está entendo nada até agora sou eu! Mal chego à empresa para trabalhar e descubro que a minha amiga tem um caso com o meu chefe e que EU não sabia de absolutamente nada.
Olho pro chão procurando o meu queixo. Ele deve ter caído em algum lugar.
- O que?!
- Eu achei mega estranho vocês dois dançando na festa... mas um caso? Nem em mil anos eu suporia uma coisa dessas!
- Onde você ouviu isso? – perguntei atônita.
- Então é verdade?! – gritou.
Olho para os lados e vejo que algumas pessoas observam com curiosidade a nossa conversa.
- Fala baixo Marta, que droga! – cochicho incomodada. – Onde você ouviu isso?!
- Querida em todos os quatro cantos dessa empresa! Do porteiro a Laura do RH.
Puta que pariu!
Minha cabeça trabalhava rápido a procura de quem poderia ter espalhado aquilo. Imediatamente dois nomes vêm: Rebeca e Marcos.
Que a ex do Alexandre é uma cobra todo mundo sabe, mas não consigo imaginá-la espalhando fofoca pela empresa. Ela quer o Alexandre e não é com mexerico que vai conseguir. Quem fez isso foi por vingança, alguém que esteja com ódio. Ódio de mim.
Marcos!
Claro só podia ser...
- Fernanda. – Marta me chama tirando-me de minhas divagações. – É verdade ou não?
- Em partes. – revelo.
Marta foi à única que veio me perguntar algo ao invés de falar pelas minhas costas. Acho que já está na hora de contar com alguém, de me abrir, ouvir uma segunda opinião. Eu era solteira, adulta e vacinada. O Alexandre também.
- Eu vou te contar a história... Desde o começo. 


Ouço três batidas na porta e em seguida Roberto, o chefe de segurança da empresa, entra em minha sala.             
- Ele acabou de chegar. – avisou em um tom sério.
- Onde ele está? – pergunto me levantando de supetão.
- Na sala dele senhor.
Saí de trás da mesa vestindo o meu paletó.
- Quer que eu vá junto senhor? – perguntou Roberto cauteloso.
O encarei.
- Não. Esse é um assunto meu.
******

Entro no pequeno escritório sem ao menos bater na porta, afinal essa merda de empresa é minha. Marcos dá um sobressalto da cadeira quando me vê entrar. O olho com um ódio mortal.
Filho da puta!
- O que você está fazendo aqui?! – pergunto a queima roupa.
- Trabalhando? – dá um sorriso cínico.
Esse merdinha não deve ter amor pela vida. O que ele quer? Que eu termine de quebrar a cara dele? Ou o que sobrou dela... O rosto do filho da mãe está acabado, fiz um bom trabalho ontem. Sua boca está inchada, muitos hematomas cobrem sua cara e ele mal consegue abrir o olho esquerdo.
- Tudo tem um lado bom. E sabe qual é o desta situação? – pergunto erguendo uma sobrancelha. Como ele não diz nada eu prossigo. – Você me deu o prazer de te colocar na rua.
Ele cerra os olhos.
- Acha mesmo que eu ligo para essa merda de emprego? Pensou o que? Que eu iria me humilhar para você?
Curvei a boca em um sorriso e olhei no meu relógio.
- Você tem exatamente uma hora para juntar as suas tralhas e passar no RH da empresa para acertar os termos burocráticos. Fernanda me contou tudo. Eu só vou te dar um único aviso: se você voltar a encostar um dedo nela eu mesmo vou cuidar para que você nunca mais saiba o que é ter um pau no meio das pernas.
Dou-lhe as costas e me encaminho para a saída. Sinto que ele se levantou da cadeira e vem atrás de mim.
- Então a Nanda te contou tudo? Ela te contou também que a gente transou?
Fecho minha mão em punho e me viro acertando com toda a minha força um soco na cara dele. Sangue espirra e o idiota cai no chão.
- Fernanda nunca transaria com um verme como você.
São minhas ultimas palavras antes de sair e deixá-lo estirado no chão.


  - Me amassa que estou passada!
Reviro os olhos antes de rir da cara de espanto da Marta.
- Como um cara pode ser ao mesmo tempo babaca e fofo? – suspira.
- Eu não sei... Em alguns momentos tenho vontade de bater nele, mas em outros a minha vontade é de levá-lo pra casa. – digo olhando para algum ponto no além.
- Oh merda... Você está apaixonada?
- Eu o amo.
- Ele sabe?
Abaixo a cabeça.
- Eu disse hoje de manhã.
- E ele? – perguntou ansiosa.
- Ele disse não entender como eu posso amá-lo. Pra ser sincera nem eu entendo. – respondo com um sorriso triste.
Marta aperta minhas mãos sobre a mesa.
- Se você entendesse não seria amor querida. – sorri. – Mas me conta, vocês dois estão juntos?
Nós estávamos juntos? Penso um pouco antes de responder.
- Eu preciso de um tempo para pensar no que você me disse, tenho que resolver algumas coisas comigo mesmo. Eu quero te dar o mundo. Eu quero ser seu.
- Você quer dizer que...
- Que quando eu te beijar de novo será para... sempre.

- Ainda não. – respondo. – Mas vamos ficar. Não consigo imaginar outro final para nós dois que não seja terminando juntos.
- Ai que tudo! – Marta grita saindo da sua cadeira e vindo me abraçar.


- Buquê de rosas vermelhas? Não... muito meloso. Caixa de bombons? Nem pensar... é um convite para jantar, não um amigo-doce. E se eu mandasse um e-mail? Não... muito formal. Porra! Como é que se chama uma mulher para jantar?!
- Normalmente é só convidar. – diz Marta com um sorrisinho cúmplice entrando na minha sala sem ser chamada.
- O que? – indago cerrando os olhos.
- Bem o Sr. perguntou e eu respondi. – falou dando de ombros.
Aquela maluca tinha pirado, só pode!
- Eu não perguntei para você, estava falando sozinho. – sibilei.
- Ah desculpe. – diz sem graça.
- A propósito onde você estava? – olho no relógio e franzo o cenho. – Duas horas de atraso!
- Desculpe Sr. Alexandre... eu estava... estava...
- Poupe-me de suas desculpas Marta. Agora vai trabalhar, não me lembro de ter te chamado na minha sala.
- É que preciso falar com o senhor. É urgente. – fala nervosa torcendo as mãos.
Reviro os olhos.
- O que é?
Ela senta na cadeira e me fita.
- Eu estou grávida.
- Grávida? – repito engolindo em seco.


- E assim finalizamos. Amanhã enviamos os contratos para a Itália. – diz Dr. Tomas.
- E a sua esposa? – pergunto delicadamente.
- Foi um grande susto. – suspira cansado. – O atendimento foi rápido e ela foi medicada, mas ainda permanece no hospital.
- Estou na torcida Dr. Tomas. – digo confiante me levantando da cadeira. – Até amanhã.
- Até. – sorri.
******

Andava até o elevador quando vi o Alexandre encostado na parede. Abri um sorriso e ele retribuiu.
- Oi. – disse quando me aproximei.
- Oi. Como foi o seu dia?
- Meu dia? – estranho a pergunta.
- É. – sorri.
- Bom... normal. Tirando o fato que o Marcos espalhou para a empresa inteira que temos um caso. – revelo temendo sua reação.
- Isso incomoda você?
Torço o rosto em confusão.
- Não, mas não te incomoda?
- Nem um pouquinho. – sorriu torto.
Ele me enlaça pela cintura e gira o meu corpo me jogando contra a parede.
Eu amava quando ele fazia aquilo!
- A Marta me contou hoje que está grávida. – sussurrou no meu ouvido. – Então eu pensei: o que irei fazer quando ela estiver de licença-maternidade? – ele me encarou sensualmente e continuou. – Eu poderia te pedir de volta ao Dr. Tomas, mas tem um problema.
- Qual? – pergunto entrando no jogo dele.
- A Regra 5: Eu nunca, em hipótese alguma transo com minhas funcionárias.
- Acontece que não estamos transando. – provoco passando o salto da minha sandália em sua perna.
Ele me queima com o olhar, sua mão pega minha perna e a levanta.
Puta merda!
- Nós não estamos transando ainda. – ele morde a minha orelha e eu gemo. – Eu vou voltar a me movimentar dentro de você Fernanda. – sussurra.
Eu pirei. Aquele homem queria me matar de tesão!
Minha mão voou para o seu pescoço e minha boca colou na dele. Foi um beijo desentupidor de pia e eu deixei bem claro o que ele estava causando em mim. Parecíamos dois loucos, acho que não dava para saber onde terminava o meu corpo e começa o do Alexandre.


Parecia ter voltado à adolescência, meus hormônios estavam à flor da pele.
Caralho! O que essa mulher fazia comigo?!
Deslizei minha boca para o seu pescoço e Fernanda vez ruídos estranhos, meu pau mais parecia uma furadeira dentro da calça, a qualquer momento rasgaria minha cueca.
Eu tinha duas alternativas: Fodê-la ali mesmo no corredor ou procurar a sala vazia mais próxima. Enquanto decidia entre o corredor e a sala o celular dela começou a tocar dentro da bolsa. Desgrudamos-nos a contra gosto para que ela pudesse atender.
- Oi mãe. – Fernanda atende.
Tento me recompor enquanto ela fala ao celular, mas paro quando vejo sua expressão mudar de excitação para desespero.
- Como isso aconteceu? Não pode ser! – em segundos ela começa a chorar. – Eu... eu... vou. Amanhã cedo.
- O que foi? – indago preocupado assim que desliga.
- Meu pai... – soluça contendo o choro. – Ele... ele... infartou. – concluiu se jogando em meus braços.


Desde o telefonema da minha mãe tudo aconteceu muito rápido. Dei sorte do Dr. Tomas ainda estar na empresa então pude avisar que viajaria para Ribeirão Bonito no dia seguinte para ver o papai. Ele foi gentil como sempre e disse que eu demorasse o quanto fosse preciso. Alexandre me deu uma carona até em casa e depois foi embora. Tadinho estava mais nervoso que eu.
Na manhã seguinte joguei algumas roupas na mala correndo contra o tempo. Eu não sabia se iria de ônibus ou se pegava um avião até o aeroporto mais próximo da cidade.
Porra eu estava tão nervosa! Meu pai... Meu paizinho enfartou.
Tentei conter as lágrimas, mas elas banharam o meu rosto.
E se não desse tempo de eu chegar? E se ele...
Não Fernanda! Para com isso!
Vesti um vestido longo e amarrei o cabelo em um rabo de cavalo, peguei a mala em cima da cama e saí do meu quarto apressada. Abri a porta da frente no exato momento em que o Alexandre iria bater. Ele vestia uma camisa cinza com uma jaqueta azul-marinho por cima e calça jeans. All Star, óculos escuros, boné e uma mochila completavam o traje.
Franzi o cenho.
- O que é tudo isso?
- Eu vou te levar até Ribeirão Bonito.
- O que? - exclamei.
- Não tem nenhuma chance de você ir sozinha.
Fiquei boquiaberta.
- Isso é loucura... Eu...
- Temos mais de três horas de viagem. A propósito, vamos no meu carro. – ele olha no relógio e me encara sob a lente dos óculos.
Como eu ainda permaneço no modo estátua, Alexandre tira os óculos me presenteando com aqueles olhos verdes.
- É um momento difícil, você não precisa passar por isso sozinha Lindinha. Meu ombro está a sua disposição.
Jesus!
Gente o que eu faço?!

4 comentários:

Unknown disse...

Ai meu pai, se eu fosse vc Nanda pegava ombro e tudo mais rsrss. To amandooo. Ansiosa pelos proximos capitulos.

Josi Novais disse...

Regina eu também pegaria o pacote completo!
Momentos lindos no próximo capítulo!

Unknown disse...

Não me deixa muito tempo ansiosa Rsrsrs. ..

Josi Novais disse...

Tentarei! <3

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