domingo, 9 de novembro de 2014

Série Rendida - Novais J




Todos nós temos passado... ou ex-namorados...


Usei todo o meu poder de persuasão, convencer Fernanda a me deixar levá-la até Ribeirão Bonito não foi nada fácil. Eu não poderia deixá-la sozinha, não em um momento como este, não depois de descobrir que eu... a amo. É difícil admitir isso para mim mesmo. Tento entender em que momento comecei a me apaixonar por ela, talvez em todos os dias daqueles últimos meses.
Meus planos de levá-la para jantar e dizer que queria ficar com ela de uma vez por todas tiveram que ser adiados depois daquele telefonema. No momento o que mais importava era estar com a Fernanda. É como diz aquela música do Caetano: “Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida”.


Olhei pela janela inquieta, viajávamos a mais de duas horas.
Onde eu estava com a cabeça quando concordei que ele viesse comigo?
Nunca levei nenhum homem para conhecer os meus pais e com toda a certeza esse não é o melhor momento para fazer isso. Eu nem ao menos sei como vou apresentá-lo a minha família.
E a minha mãe?
Puta que pariu!
Quando ela ver o Alexandre vai pirar, no mínimo correrá até a igreja mais próxima para marcar a data do casamento.
Eu estou fodida.
Em que confusão fui me meter?!
Quando inesperadamente o Alexandre bateu a minha porta no seu modo mais fofo de ser, meu cérebro deu curto-circuito.
Aquele homem é muita ostentação minha gente!
 Quando dei por mim já estava me acomodando no banco confortável do GMC Yukon Hybrid com ele a tiracolo.
- Temos menos de uma hora de viagem. – comentou.
Tirei meus olhos da janela e o encarei.
- Sim.
Ele tirou minha mão do repouso da minha perna, levou até os lábios e a beijou.
- Seu pai vai ficar bem. Você vai ver.
Eu assenti diante do seu sorriso confiante.
- Você nunca me falou nada sobre a sua família. – comentei depois de um tempo.
Ele suspirou e olhou para a estrada.
Merda! Toquei em um dos assuntos proibidos.
- Eu nunca falei porque não há o que falar.
- Como não há?
- Meus pais morreram há muitos anos.
Engoli em seco,
- Nossa eu não... sabia. Desculpe. – disse constrangida colocando minha mão em sua perna.
- Não precisa pedir desculpas. Como eu já disse foi ha muitos anos.
- E eles morreram de que? – perguntei de supetão me arrependendo no mesmo instante.
Alexandre me olhou de um jeito tão sério que me sobressaltou.
Fernanda você não pode simplesmente manter essa boca fechada!
- Por que o meu passado te interessa tanto? – indagou ríspido.
O tom agressivo com que ele se dirigiu a mim me irritou, depois de toda a mudança que rolou entre nós pensei que nunca o ouviria falar assim comigo de novo.
Obviamente eu estava enganada, tem coisas que nunca mudam.
- Me interessa e sempre vai interessar. É parte de você, do que você se tornou. – cuspi.
Ele cerrou os olhos e depois voltou sua atenção para a estrada, era o seu jeito de me dizer que a conversa havia terminado.
******
Chegamos a Ribeirão Bonito pouco mais do meio-dia. Alexandre estacionou o carro de frente a Santa Casa e abriu a porta para que eu saísse. Olhei para a fachada do hospital e respirei fundo, travei e simplesmente não conseguia seguir em frente.
Penso no papai e nos momentos felizes que passamos: os almoços de domingo, as tardes que ficávamos juntos vendo o por do sol, os abraços apertados, as escapadas para tomar sorvete antes do almoço escondido da mamãe. Minha garganta aperta e lágrimas enchem os meus olhos embaçando a minha visão.
Alexandre coloca o braço em volta de mim e em instantes eu já estou aconchegada em seu peito firme.
- Estou feliz que você esteja aqui. – confidencio.
- Eu também estou lindinha. – sussurra beijando a minha cabeça.
Ele me leva para dentro da Santa Casa e eu me esforço para ser forte como o papai me ensinou durante toda a minha vida. Na sala de espera a primeira pessoa que vejo é a mamãe, ela está sentada com a cabeça entre as mãos, ao seu lado está parte da minha família: alguns tios, tias e primos.
- Mãe! – chamo.
Ela levanta a cabeça e assim que me vê corre ao meu encontro. Eu a abraço forte e choramos juntas. Ela desliza delicadamente as mãos sobre as minhas costas e então percebo o quanto senti falta do abraço de mãe.
Mamãe beija as minhas bochechas e seca as minhas lágrimas.
- Mãe... como... ele está?
- Ele vai ficar bem. – disse com um sorriso.
Solto o ar que estava preso em meus pulmões e coloco a mão no peito.
- Graças a Deus. Como isso aconteceu?
- Foi tudo tão de repente. – começou. – Ele acordou, desceu as escadas e foi até a mesa tomar o café da manhã, então antes que chegasse a se sentar caiu no chão com a mão no peito. Fiquei desesperada meu bem, seu tio Mário por sorte estava lá para uma visita e me ajudou a colocá-lo no carro e trazê-lo para a Santa Casa. Há alguns dias ele vem reclamando de tontura, fraqueza repentina e cansaço. Eu disse que iria trazê-lo ao médico, mas o seu pai é um cabeça dura!
- Onde ele está? Eu quero vê-lo. – choraminguei.
- Ontem ele ficou o dia inteiro na UTI sendo medicado e monitorado. Hoje pela manhã o médico veio avisar que o seu pai já foi levado para o quarto e que está dormindo devido aos medicamentos. Só poderá receber visitas quando acordar.
- Mãe eu fiquei tão preocupada... tive tanto medo! – disse angustiada voltando a abraçá-la.
- Eu tenho uma notícia boa para lhe dar. – falou me aninhando em seus braços.
- Qual? – perguntei me afastando para encará-la.
- Se tudo ocorrer bem, amanhã ele irá para casa.
- Sério? – perguntei entre soluços e risadas.
- Sim meu bem. – assegurou pegando em meu rosto. – Fernando ficará radiante quando ver você.
Eu sorri tirando sua mão do meu rosto e a beijando.
- Eu te amo mãe.
- Também te amo meu bem.


Encostei-me em uma das colunas do hospital e enfiei as mãos nos bolsos da calça. Estava me sentindo meio deslocado, Fernanda conversava com uma senhora, que deduzi ser a sua mãe, a alguns metros de distancia de mim. Sua expressão havia se suavizado e ela já havia parado de chorar, deduzi então que o seu pai estava fora de perigo.
A mãe da Fernanda era praticamente uma versão morena dela. Não devia ter mais que cinquenta anos, tinha estatura mediana e o mesmo sorriso da filha. Ela conversava com a Fernanda e ainda não havia reparado na minha presença, ao contrário do resto dos familiares que não paravam de cochichar e olhar para mim.
A impressão é de que estava sendo analisado.
Depois de alguns instantes vi Fernanda me procurando com o olhar, assim que ela me avistou deu um leve sorriso em minha direção que retribui. Pela primeira vez meus olhos se cruzaram com os da mãe da Fernanda, vi quando ela perguntou alguma coisa à filha e depois começou a andar em minha direção seguida de perto pela Fernanda. Assim que elas se aproximaram, me afastei da coluna e fiquei de pé esperando Fernanda fazer as apresentações.


O radar para genros da minha mãe já dava sinais claros de detecção, ela olhava o Alexandre com olhos brilhantes como se ele fosse o herói que salvaria a sua filha da encalhação.
- Mãe este é o Alexandre, ele quem me trouxe até Ribeirão Bonito. Alexandre está é Julia, mais conhecida como minha mãe. – apresentei-os.
Alexandre deu um de seus sorrisos balança coração que atingiu minha mãe em cheio. Ela estendeu a mão para o cumprimento e ele a beijou me deixando boquiaberta.
Puta que pariu! Agora que a minha mãe vai enlouquecer de vez!
- Encantado Dona Júlia.
- Oh, mas que gentil! Esquece o Dona, pode me chamar de Julia.
- Julia então. – concluiu o Alexandre.
- É uma pena que estejamos nos conhecendo em um momento tão delicado. – começou mamãe. – Mas lhe agradeço por ter acompanhado a minha filha até aqui.
- Eu não poderia deixá-la sozinha em um momento como este.
Minha mãe piscou os olhos repetidas vezes depois da frase do Alexandre, o safado já a havia conquistado.
- Oh espero que fiquem alguns dias, gostaria que Fernando lhe conhecesse. Ele terá alta amanhã.
- É claro que vamos ficar. – afirmou Alexandre.
Cuma?
- Vamos? – ergui uma sobrancelha.
- Sim. – reafirmou com um sorriso.
O que ele estava pensando? É claro que gostaria de ficar com o meu pai alguns dias, mas eu tinha trabalho e obrigações e... e...
- Venha querido. – minha mãe o puxou pela mão. – Quero te apresentar ao resto da família.
- Mãe! – tentei intervir, mas ela já o puxava em direção ao grupo.


Julia me apresentou a muitas pessoas, conheci três tios, cinco tias e dois primos da Fernanda. Gostei de imediato de todos, eram pessoas simples e acolhedoras. Mantinha uma conversa neutra com eles quando o médico apareceu avisando que o pai da Fernanda, havia acordado e pedia para ver a esposa.
- Querida eu vou e depois volto para chamar você. – disse Julia dando um beijo no rosto da filha.
Assim que ela sumiu por entre os corredores, Fernanda me puxou para longe dos seus parentes.
- Que história é essa de que vamos ficar uns dias? – perguntou irritada.
- Você não quer ficar uns dias com a sua família? – inquiri confuso.
- Quero, mas não é você que decide isso. Nem falei com o Dr. Tomas ainda!
- Eu sou o dono da empresa, você não precisa...
- Nem termine essa frase Alexandre! – indignou-se. – Não admito que você se intrometa no meu trabalho. E além do mais você não é meu chefe, portanto não pode falar por ele!
Dei um sorriso cínico.
- Eu sou o chefe do seu chefe.
Ela revirou os olhos.
- Ai como você é prepotente! – se irritou.
Eu sorri.
- Você sabe que o Dr Tomas não vai se opor. Vão ser só alguns dias.
Ela me encarou a raiva já se dissipando.
- Você vai ficar também?
- Se você deixar eu gostaria muito. O meu lugar é onde você estiver. – respondi sério puxando-a para os meus braços.


Abro a porta lentamente, entro no quarto e papai está deitado na cama ligado a alguns aparelhos.  Aproximo-me e apoio o braço na grade o observando, ele tem novos cabelos brancos na cabeleira loira e está bastante abatido.
Vejo seus olhos se abrindo devagar e então sou observada por brilhantes olhos azuis da mesma cor que os meus.
- Pai.
Ele abriu um sorriso e pegou em minha mão sobre a grade.
- Fernanda, minha filha.
Eu amava a minha mãe, mas eu e o papai sempre fomos mais próximos. Ele é parceiro e o meu melhor amigo.
- Eu tive tanto medo pai... – balbucio com os olhos cheios de lágrimas.
- Foi só um susto meu bem, me recuso a morrer antes de viver certas emoções. – sorri.
- Eu te amo pai. – falei apertando mais sua mão e me aproximando para depositar um beijo carinhoso em sua testa.
- Eu sempre vou te amar Fernanda.
******

Não sei quanto tempo se passou desde que deitei na cama de hospital junto com o papai, ele tinha a cabeça recostada em meu ombro e nossas mãos estavam entrelaçadas. Para mim estava meio desconfortável, mas não me importei, eu tinha o meu herói pertinho do meu coração.
- Sua mãe me contou que você veio com um namorado.
Cristo!
- Pai... ele não... a mamãe aumenta as coisas...
- Fernanda, quem é ele? – me cortou em um tom sério que não admitia mentiras.
Eu me levantei apenas o suficiente para encará-lo.
- Ele é alguém que... é especial demais pra mim. Algumas coisas aconteceram e ainda não tivemos tempo de conversar direito sobre nós, então eu não sei se posso chamá-lo de namorado. – dei um sorriso tímido.
- E o rapaz? Gosta de você?
- Meu coração diz que sim.
- Ele deve ser realmente especial, caso contrário você não estaria apaixonada.
Fiz uma cara meio surpresa, era como se eu fosse transparente para o meu pai.
- Eu o amo. – confessei angustiada. – Ele é tão complicado, confuso e idiota na maioria das vezes, mas mesmo assim eu me apaixonei pai! Ele... consegue em alguns momentos ser tão apaixonadamente fofo, é como se eu estivesse vivendo o meu próprio conto de fadas, só que sem os enfeites e perfeições.
Meu pai me fitou seriamente para logo em seguida acariciar o meu rosto.
- Na vida real somos nós que temos que ir em busca do felizes para sempre Fernanda.
- É isso que tenho feito pai. Venho lutando pelo meu.


A grande maioria dos parentes da Fernanda já haviam ido embora restando somente eu e a Júlia. Sentei-me em uma das cadeiras da sala de espera e olhei para o corredor esperando o momento em que Fernanda apareceria, ela estava visitando o pai no quarto.
- Tem muito tempo que vocês se conhecem? – perguntou Julia.
Desviei meus olhos do corredor e a encarei. Ela queria saber sobre mim e a Fernanda.
- Alguns meses.
Júlia sorriu.
- Fico feliz que a Fernanda finalmente tenha trago um namorado para apresentar a família. – ela me olha constrangida. – Digo... é o que vocês são não é? Namorados?
Agora foi a minha vez de sorrir.
- Bom... eu ainda não fiz o pedido, mas pretendo fazê-lo em breve.
Julia me olha com olhos brilhantes e agarra minhas mãos.
- Jura? – dou um sorriso e aceno que sim com a cabeça. – Se hipoteticamente ela dizer não, por favor, não desista. Fernanda é um pouco difícil, mas é uma boa menina.
Eu gargalhei.
- Acho que não corro esse risco, mas se hipoteticamente isso acontecer eu não vou desistir. Nunca. – asseguro encarando a Júlia.

******

- E então como ele está? – pergunto me levantando assim que Fernanda chega.
- Ele está bem, melhor do que esperava. – diz aliviada.
- Querida por que você não vai para casa com o Alexandre descansar? – sugeriu Julia se levantando também.
- Mãe eu não quero te deixar sozinha...
- Meu bem conversei com o médico, seu pai está apenas em observação. Amanhã ele irá para casa. Vocês dois devem estar com fome. Descansem, comam alguma coisa e mais tarde voltem.
Olhei para a Fernanda.
- O que você decidir pra mim está tudo bem. Podemos comer alguma coisa aqui mesmo no hospital se você quiser ficar.
Julia suspirou.
- Oh querida que cavalheiro. Não se pode deixar escapar um homem assim, no meu tempo se agarrava com unhas e dentes. Seu pai mesmo...
- Mãe! – cortou Fernanda levando a mão ao rosto em sinal de constrangimento. – Acho melhor irmos para casa mesmo, mais tarde voltamos.
- As chaves querida. – Julia tira um molho de chaves da bolsa e entrega a Fernanda. – Nem acredito que você está de volta e com um namorado!
- Mãe! – disse Fernanda entre dentes. – Vamos Alexandre. – ela me pega pela mão e me puxa para a saída do hospital.
Acenei para a Julia e ela retribuiu cheia de sorrisos.
- Acho que a sua mãe gostou de mim. – comentei já dentro do carro.
Ela me olhou irritada.
- Minha mãe gostaria de qualquer candidato a possível genro que eu trouxesse para casa. Ela acha que estou encalhada.
Explodi na gargalhada e Fernanda me fulminou com o olhar.
- Dá pra você parar de rir! – exigiu.
- Foi mal lindinha, mas vamos admitir que é hilário. – confessei com a mão na barriga contendo as gargalhadas.
- Liga o carro Alexandre, quero ir para casa. – bufou cruzando os braços.
- Ok... não precisa ficar nervosa. – pisquei e ela revirou os olhos.
******
Ribeirão bonito não era uma cidade muito grande, durante o trajeto até a casa dos pais da Fernanda ela me contou que a principal atividade econômica do município é a agropecuária. A casa não ficava muito longe do hospital, apenas uns quinze minutos de carro.
Parei o GMC de frente para uma casa branca de dois andares que tinha uma varanda grande com um sofá e algumas cadeiras de balanço, no pátio muitas arvores podiam ser vistas dando ao lugar um aspecto de lar.
- Algo errado? – perguntei visto que Fernanda estava com o olhar fixado na casa.
- Nenhum. – sorriu me fitando. – Saudades de casa. Venha Sr. Alexandre, quero que conheça a minha casa!
Ela saltou animada para fora do carro e eu fiz o mesmo.
Por dentro a casa era tão linda quanto por fora, na sala havia um enorme sofá, uma estante com livros, TV, Som e DVD. Uma grande escada que levava ao andar de cima ficava do lado esquerdo da sala e do lado direito uma porta de correr que levava a cozinha.
Dei alguns passos ficando em pé ao lado da estante, retratos de família estavam espalhados: os pais da Fernanda sorrindo felizes, Fernanda abraçada ao pai no dia da sua formatura, Fernanda quando bebe sorrindo deitada em um tapete azul e Fernanda adolescente beijando um rapaz no rosto.
Que merda era aquela?!
- Alexandre vem aqui em cima! – ouvi a voz dela vinda do segundo andar.
Olhei para a foto com uma carranca, o rapaz em questão estava com o braço enlaçado na cintura dela enquanto era beijado na bochecha e ambos sorriam para a câmera.
Calma Alexandre, essa foto deve ter no máximo uns dez anos. Não banque o ciumento!
Subi às escadas. Não iria perguntar nada. Se Fernanda quisesse que me contasse sobre.
Ela iria me contar não iria? Por que diabos essa foto está na estante da casa dela?! Quem é o cara?
- Alexandre! – ela grita abrindo uma das portas do corredor. – Vem, quero que conheça o meu quarto.
Ela sorriu maliciosamente e minha raiva foi se esvaindo.
Entrei no quarto cheio de más intenções rondando a minha cabeça.


Sentei na minha cama e esperei que ele entrasse. Tudo estava exatamente da mesma forma de quando entrei aqui pela última vez, mamãe dizia que sempre conservaria o meu quarto de adolescente.
Alexandre entrou olhando ao redor com um sorriso nos lábios. Ele observou os pôsteres dos meus galãs preferidos colados na parede: Richard Gere, Keanu Reeves e o eterno gostoso George Clooney.
- Antes de voltarmos a São Paulo te convencerei a tirar da parede esses pôsteres. – provocou em um tom serio.
- Nunca no Brasil! – sorri.
Ele andou um pouco até a mesinha do meu computador e abaixou-se olhando o meu porta CD´s.
- Ed Sheeran. – comentou.
- Sempre.
Sua atenção se voltou para a minha estante de livros.
- Humm... bem eclética: O Morro dos Ventos Uivantes, O Fantasma da Ópera, O Código da Vinci, Madame Bovary e é claro, Orgulho e Preconceito. – disse pegando cada uma das obras nas mãos.
Levanto as mãos em rendição.
- Não há como não se render ao Mr. Darcy.
Ele revira os olhos colocando os livros de volta no lugar. Alexandre caminha até o meu guarda-roupa onde na porta tem mais de cinquenta adesivos de As Meninas Super Poderosas.
Acusem-me de infância retardada. Sou culpada. Admito.
Alexandre olhou para mim cerrando os olhos.
- Lindinha.
Sorri.
- Aposto que você foi muito mimada. – declarou afundando o meu colchão ao se sentar na cama comigo.
- Privilégios de filha única.
- Sorte sua ser filha única. – disse olhando para um ponto além de mim.
Meu queixo caiu.
Puta que pariu! Será que ele tinha um irmão ou irmã?
- Você tem irmãos? – perguntei tão baixinho que pensei que ele não escutaria.
Nossos olhos se encontraram e ele abriu a boca para responder, mas foi interrompido pelo som da campainha.
Oh merda! Eu mato quem quer que seja!
- Acho melhor você ver quem é. – ele correu uma mão pelo cabelo.
Bufei me levantando da cama e saindo do quarto.
******
Quando abri a porta e vi quem estava na minha frente não acreditei a principio.
- Ivo! – exclamei com o meu coração batendo forte dentro do peito.
O Ivo foi o meu primeiro amor, na verdade ele foi o meu primeiro em quase tudo. Meu primeiro beijo de língua foi com ele e a minha primeira vez também. Éramos vizinhos e ele morava de frente para a casa dos meus pais.
- Fernanda!
Ele da um passo para dentro de casa e abre os braços, dou um sorriso e me jogo pra cima dele o apertando forte.
- Eu não acreditei quando te vi entrando aqui! Demorei em tomar coragem e bater na porta. Poxa eu tinha que te ver. – ele me afasta e me encara. – Fazem o que? Dez anos que não nos vemos?
- Sim. Dez anos. Quando você voltou?!
- Tem uns seis meses. A Dona Júlia e o Seu Fernando me disseram que você estava morando em São Paulo. Eu quase fui lá atrás de você!
Eu sorri tímida. Sempre ficava assim quando ele me olhava daquele jeito.
Ivo acaricia o meu rosto e com um leve sorriso no canto dos lábios me avalia.
- Você está linda Fernanda, virou um mulherão.
Um pigarro atrás de mim chama a nossa atenção, viro-me para encontrar um Alexandre de braços cruzados me encarando.
Oh merda eu tinha me esquecido temporariamente que ele estava lá em cima!
E pela sua cara ele estava ali a um bom tempo.


O brilho cínico dos meus olhos devia estar combinando com a curva zombeteira dos meus lábios. Segurei-me para não puxar a Fernanda pelo braço e tirá-la de perto daquele mané.
- Ah... Alexandre esse é Ivo, um vizinho e amigo da família. – começou Fernanda nervosa.
Olhei para ela com ceticismo.
- Ivo esse é o Alexandre, ele veio me acompanhando.
Aproximei-me e estendi a mão para o tal do Ivo.
- Então você é vizinho e amigo da família? Prazer, eu sou o namorado da Fernanda.
Primeiro ele olhou para ela sem nada entender, Fernanda por sua vez me olhava boquiaberta.
- Ah... eu... eu não sabia que a Fernanda tinha um namorado. – disse desconfiado apertando a minha mão.
- Mas tem. – afirmei esmagando a mão do cara.
O observei agora mais atentamente. Ele era da minha altura, tinha o cabelo castanho batendo no pescoço e uma pequena barba circundando o rosto. Tive a impressão que já o havia visto em algum lugar.
Seu rosto parecia... familiar.
Caralho!
É claro! Só podia ser! Ele é o mané da foto na estante!



Alexandre soltou a mão do Ivo e passou o braço na minha cintura possessivamente.
Puta que Pariu!
Ele falou que era o meu namorado?!
Eu ouvi direito gente?!
O silêncio constrangedor se instalou sobre nós três, Alexandre encarava Ivo como se a qualquer momento fosse jogá-lo da varanda para baixo.
Eu sentia que tinha que fazer alguma coisa... eu tinha que...
- Ivo você não quer entrar um pouco? – falei de supetão.
Sinto o braço do Alexandre apertar ainda mais a minha cintura me avisando que tomei a decisão errada.
- É Ivo, você não quer entrar um pouco? – ele diz imitando o meu jeito de falar.
Engulo em seco. Eu e minhas ideias de jerico!
Encaro Ivo sinalizando para ele recusar.
Vamos Ivo invente uma desculpa! Não aceite poxa! Vamos! Vamos! Vamos!
Ivo sorri e eu percebo que estou ferrada.
- É claro que vou entrar um pouco.
Oh merda!

3 comentários:

Unknown disse...

Kkkkkk gostei do Ivo, doida pra saber o que vai acontecer com eles. ... tbm gostei dos pais da Fernanda, ainda bem que não aconteceu nada mais grave com o pai da Nanda... ansiosa♥♥♥♥

Josi Novais disse...

Regina eu também amei o Ivo
Hahaha
Próximo capítulo está imperdível!

Unknown disse...

Super ansiosa Rsrsrs.

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